O Presidente da República de Cabo Verde considerou hoje que, com a morte do escritor Manuel Lopes, em Lisboa, na terça-feira, aos 97 anos, "a Nação cabo-verdiana perdeu um dos maiores vultos da sua literatura".
Em nota hoje divulgada pela presidência de Cabo Verde, Pedro Pires realça a importância da obra de Manuel Lopes na "denúncia dos flagelos" do arquipélago.
"O grito de denúncia subjacente às obras de Manuel Lopes - com destaque para os 'Flagelados do Vento Leste' e 'Chuva Braba' - ecoou bem fundo no peito das novas gerações", refere o chefe de Estado cabo- verdiano.
No documento, Pedro Pires aponta Manuel Lopes como "um dos escritores que melhor souberam traduzir todo o drama de um povo em luta titânica permanente contas as lestadas - o vento de Leste - e a escassez de água".
Manuel Lopes morreu aos 97 anos de morte natural, em Lisboa, apesar de sofrer há alguns anos de problemas circulatórios. O funeral realiza-se, na quinta-feira, para o cemitério do Alto de São João, onde o corpo será cremado.
Nascido a 23 de Dezembro de 1907, no Mindelo, Ilha de São Vicente, há quem no arquipélago defenda que o autor nasceu na ilha de São Nicolau. Viveu nos Açores, antes de se instalar definitivamente no continente.
Uma das suas obras mais conhecidas, "Flagelados do Vento Leste", publicada em 1959, foi adaptada ao cinema em 1987 por António Faria.
O seu primeiro romance, "Chuva Braba" (1958) valeu-lhe o prémio Fernão Mendes Pinto, sendo consagrado com o mesmo galardão pela obra "O galo que cantou na Baía (e outros contos cabo-verdianos), em 1959.
O escritor, que também se dedicou à pintura, foi co-fundador do movimento literário "Claridade", criado no Mindelo, São Vicente, em 1936, como uma afirmação de emancipação cultural, social e política da sociedade cabo-verdiana.
A obra de Manuel Lopes abrange a poesia, ensaio, romance e conto.
Há dois anos, foi homenageado na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa pelo Instituto Camões, no âmbito do projecto "Pontes Lusófonas".