"Mais de 4.800 crianças". No dia da chegada do papa, cartazes lembram vítimas de abusos sexuais na Igreja

por Joana Raposo Santos - RTP
Os cartazes foram instalados durante a última madrugada na Alameda, em Loures e em Algés. Catarina Demony - Reuters

Poucas horas antes da chegada do papa para a Jornada Mundial da Juventude, foram colocados em Lisboa, Loures e Algés enormes cartazes que denunciam os abusos sexuais sofridos por milhares de crianças no seio da Igreja católica em Portugal. A iniciativa partiu de um grupo de cidadãos que quer "dar voz às vítimas" e "denunciar o silêncio ensurdecedor" na altura em que se realiza a JMJ.

“Mais de 4.800 crianças abusadas pela Igreja católica em Portugal” é a frase que se destaca nos três grandes cartazes afixados na madrugada desta quarta-feira. Junto a estas palavras, 4.815 pontos vermelhos representam cada uma dessas vítimas.

O movimento “This is Our Memorial” (que se traduz por “Este é o Nosso Memorial”) arrancou no Twitter, agora X, onde a designer Telma Tavares criou a arte que ilustra as vítimas dos abusos sexuais na Igreja.

Um utilizador da rede social sugeriu que fossem angariados fundos para que esse design pudesse ser erguido em forma de cartaz em Lisboa. O valor necessário foi atingido em apenas três horas e, pouco depois, já permitia a colocação não de um, mas de dois cartazes.

Uma segunda angariação de fundos possibilitou o terceiro cartaz.

Todos eles foram instalados durante a última madrugada: um no centro de Lisboa, na Alameda; outro em Loures, e o último em Algés.

“Não nos escondemos mas também não queremos aparecer”, escrevem os membros do movimento no site oficial deste. “O foco deve estar em dar voz às vítimas, as caras a aparecer devem ser as dos responsáveis pela instituição que permitiu que este tipo de abuso fosse estrutural e, até ao momento, impune”.
"Para que jamais volte a acontecer"
O “This is Our Memorial” acusa a ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) de “querer fingir” que o relatório sobre os abusos sexuais na Igreja “não existe”.
“Em Março anunciam um memorial que seria erguido durante o evento, em Belém, mas em Julho dizem que, afinal, já não há memorial. As declarações públicas de elementos envolvidos na organização da JMJ, e até do Presidente da República, vão desde a minimização das vítimas até ao assumir do ‘desconforto’ com a ideia de um memorial. Houve pessoas denunciadas neste relatório cuja ligação à ICAR foi suspensa pela igreja e que, entretanto, já retomaram as suas funções”, frisam.

Por estas razões, os membros do movimento querem fazer perguntas: “Que fez a ICAR para impedir que o ciclo de abusos se perpetue? Que fez a ICAR para colaborar com a Justiça? Que tem o Sumo Pontífice a dizer às vítimas e aos portugueses?”.

Enquanto as respostas não chegam, o “This is Our Memorial” pede que continue a dar-se voz às vítimas “para que o que aconteceu jamais volte a acontecer”.
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