Loures. Moradores do Zambujal vivem rodeados de entulho após demolição das barracas

por Gonçalo Costa Martins - Antena 1

Fotos: Gonçalo Costa Martins - Antena 1

Escondida da rua principal do bairro, há uma zona com várias casas precárias. Algumas foram demolidas pela Câmara de Loures. Sem alternativas, os moradores foram viver para outras casas da comunidade.

Teresa Landim viu a habitação da filha demolida no ano passado, no dia 9 de abril, véspera do seu aniversário.

"Essa casa foi o meu marido que a construiu", ele que veio há 33 anos de Cabo Verde para Portugal, conta Teresa. Primeiro de madeira, depois reforçada com tijolo, a casa foi considerada ilegal pela autarquia. "Está feito, eles demoliram. Como é que a gente vai fazer outra vez?", questiona.

Tanto ela como o vizinho Wilson Costa, com 29 anos, também cabo-verdiano, ficam na dúvida se devem voltar a tentar reconstruir porque receiam que sejam mandadas outra vez abaixo. "Neste momento a gente tem que esperar tudo", aponta Wilson.

Com "o ordenado que a gente ganha, vai juntando e vai comprar um bocadinho de material. E vai construindo aos poucos", afirma.

O dinheiro que as famílias de Wilson e Telma investiram está agora em ruínas, em frente às casas onde moram agora. Não foram removidos pedaços de tijolo, vigas e cabos suspensos, assim como frigoríficos estragados.

Sem alternativas da autarquia, não veem com facilidade outras opções: "para comer e para pagar a arrenda, é muito complicado".

Teresa conta seis elementos do agregado familiar, e duvida que juntar os rendimentos mensais de todos dê para pagar uma casa.

"Fiquei arrependida por não comprar uma casa antes", afirma Teresa, acrescentando que o local onde agora vive é pior do que o que tinha em Cabo Verde. Ponderou voltar, mas afirma que os filhos, já nascidos em Portugal, não querem voltar.

"Grande Marcha dos Bairros"

Vivem aqui sobretudo trabalhadores imigrantes, com empregos na construção civil e nas limpezas. A Câmara Municipal de Loures tenta conter o bairro perante quem não encontra alternativas.

Para chamar a atenção para estes problemas na habitação e da falta de rendimentos de várias famílias e alternativas perante despejos, o movimento Vida Justa começou este domingo um périplo por bairros da Área Metropolitana de Lisboa.

Para isso, organizou várias atividades no bairro do Zambujal juntamente com a associação de moradores e proprietários, começando o dia com um torneio de futebol - interrompido depois por causa da chuva.

O porta-voz do movimento, Flávio Almada, critica a falta de alternativas organizadas pelas autarquias e pelo Estado central.

"É preferível estar numa habitação precária do que ficar no meio da rua", e pergunta: "Se não tem solução, porque é que estão a mandar as pessoas ficarem na rua?", lembrando o frio e a tempestade dos últimos dias.

As ações sob o mote "Grande Marcha dos Bairros" vão continuar durante este mês e também em abril.
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