Dias "tranquilos" e "apertados". Também a CP na Linha de Sintra tem comboios sobrelotados

por Gonçalo Costa Martins - Antena 1

Fotos: Gonçalo Costa martins, Nuno Patrício - RTP

Não é apenas a Fertagus que anda com os comboios cheios. O mesmo acontece na linha urbana mais movimentada do país. Só os passageiros das primeiras estações conseguem sentar-se e, a certa altura, há quem não consiga mesmo entrar.

Não há mãos a medir no café da estação Agualva-Cacém. Os pedidos em forma de gritos vêm da caixa para quem tiver mãos livres para os apanhar.

Ouve-se um musicado “dá-me um café para levar” ou “quero um café cheio”. A cafeína claramente é chamada para despertar.

Logo a partir das 5h00 já há um “movimento muito grande”, realça Dolores Capitão, do café. Até a loiça é “movimentada”, comenta quando um colega parte uma chávena - “a entrevistada sou eu, não és tu”, diz para Bernardo, na brincadeira, para ele não estar nervoso (sorri enquanto apanha os cacos).

A azáfama do café esbarra na tranquilidade de quem espera pelo comboio. São 6h30 e o silêncio está instalado, apenas interrompido pela CP, neste caso pela série 2300.

Sílvia Moreira, empregada doméstica, está serenamente sentada - é um dos últimos momentos do dia assim: “vou em pé, volto em pé, passo o dia todo em pé”.

Começa-se a perceber as palavras de Sílvia quando chegam os comboios. Antes desta estação, há outras cinco a partir de Sintra rumo a Lisboa-Oriente. Há uma corrida aos poucos lugares sentados que existem e que, com o passar das horas, esgotam ainda antes de Agualva-Cacém.

Uma vez, recorda Sílvia, ela e outras passageiras foram “empurradas para fora porque (o comboio) estava muito cheio e alguém se movimentou”.


Há dias e dias, mas há uma hora de “caos”

As queixas tendem a piorar à medida que avançamos nas horas e na Linha de Sintra, que percorre a zona da Grande Lisboa.

Quando a Antena 1 chega à estação da Amadora, vai ter com João, mais um passageiro, mas, através de gestos, ele sugere que tem problemas de audição.

Lê então duas perguntas no telemóvel do jornalista: a esta hora (eram 8 da manhã), na Amadora, os comboios costumam vir cheios? E há lugares sentados?

À primeira acena que sim, e à segunda verbaliza sem hesitar: “nunca”.

João acrescenta uma crítica irónica. Os comboios vêm “sempre com 5 minutos de atraso, não sei porquê que não mudam os horários para cinco minutos mais tarde”, diz.

Ana Farinha concorda: o comboio das 8h09 “todos os dias vem atrasado” (esta quinta-feira, dia 13 de fevereiro, chegaria seis minutos depois).

“A partir desta hora e até às 9 horas é um caos”, avisa, dizendo que na maioria das vezes entra-se no comboio, mas que “a partir desta hora é impossível” sentar.


Ana Farinha usa a Linha de Sintra todos os dias

“No comboio anterior consegue-se ir geralmente à larga”, pelo que uns minutos fazem a diferença, sublinha Ana, que segura uns auriculares (a Antena 1 interrompeu a escuta de um audiolivro que ouvia “para aproveitar o tempo”).

Até chegar à Amadora, o comboio da Linha de Sintra passa por nove estações. Só à décima, na Reboleira, há ligação com o Metro de Lisboa, mas Fábio Azevedo garante que não alivia.

“Sai muita gente em Sete Rios para ir para o outro lado da ponte e também sai muita gente em Entrecampos”, referindo que “na Reboleira não se nota tanto”.

“De vez em quando apanho o comboio tranquilo e consigo entrar”, embora “quase nunca” se sente, mas “há outros dias que está completamente cheio”.

Fábio prefere deixar passar os que vão sobrelotados, recordando “situações pontuais” em que, por avaria ou indisposição de alguém, o comboio já ficou parado na linha.

Já depois das 9h00, na Reboleira, Alcinda Monteiro costuma navegar em contracorrente. “Muitas vezes perco o comboio porque as escadas estão com muita gente que vem de Sintra para Lisboa”, explica.

No sentido da maioria, Rúben Miguel diz que tem um horário flexível no trabalho, e por isso entra mais tarde para ter uma viagem melhor - “menos gente, mais conforto”.

 Os passageiros descrevem que há alturas em que os comboios circulam sobrelotados“Capacidade máxima” e uma reserva condicionada
A Linha de Sintra funciona na “capacidade máxima”, garantem várias fontes da CP à Antena 1. Quer isto dizer que, perante a capacidade que a infraestrutura tem nesta altura, circula o número máximo possível de comboios.

Esse número era mais reduzido antes da pandemia, mas foram recuperados comboios que estavam “encostados”. Ana Farinha referia que até 2020 “era horrível”.

“Desde o final da pandemia consegue-se entrar em quase todos os comboios”, diz.

Por outro lado, quando há atrasos ou supressões (que podem acontecer por várias razões, seja avarias, acidentes ou outras condicionantes), a circulação complica-se.


Tende a existir uma reserva de comboios que estão de prevenção nas linhas ferroviárias. Três fontes da CP referem que a reserva da Linha de Sintra tem estado mais condicionada, porque há carruagens a ser utilizadas na Linha do Sado.

Este troço entre o Barreiro e as Praias do Sado foi reforçado em dezembro, quando o Governo anunciou que a CP e a Fertagus aumentariam a oferta em Setúbal.

Desde essa altura, os passageiros da Fertagus têm se queixado da sobrelotação dos comboios, com frequências mínimas de 20 minutos entre Setúbal e Lisboa. A concessionária privada viria a ajustar a alternância entre comboios simples e duplos.


Esta semana, no Parlamento, o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, disse que o Governo questionou a CP sobre se seria possível ceder comboios para reforçar a Fertagus, mas a empresa garantiu não ter condições para dispensá-los.

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