Linguistas justificam "proibição" do uso do gerúndio no Brasil, apenas como medida política

por © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

A decisão de um governador brasileiro de limitar a utilização do gerúndio, por ser uma forma verbal associada à ineficiência, é considerada por linguistas portugueses como unicamente política, visto que é uma construção verbal existente no português.

O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, demitiu por decreto o uso do gerúndio nos órgãos do governo e proibiu o uso do gerúndio para desculpa de ineficiência.

O político alegou que perdeu a paciência com alguns assessores que estão sempre "fazendo, providenciando, estudando, preparando, encaminhando", mas nunca concluem um trabalho ou estabelecem um prazo para a sua finalização.

José Mário Costa, jornalista e responsável pelo site Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, disse à agência Lusa que a medida adoptada só pode ser vista como "simbólica" e com "piada".

Também a professora e linguista Regina Rocha, do Ciberdúvidas, considera que o decreto apenas é válido num contexto político.

"O gerúndio é uma forma verbal que sugere duração e prolongamento da acção" e é uma "construção que vem do português antigo", acrescentou.

Estes dois especialistas recordam que em Portugal o gerúndio caiu em desuso, utilizando-se, em seu lugar, o infinitivo.

"Ou seja, em vez de dizermos "estou fazendo", dizemos "estou a fazer"", exemplificou.

Regina Rocha esclareceu que a própria fonética dos verbos conjugados no gerúndio transmite a ideia de prolongamento, dado que têm mais sílabas.

Sobre a ideia do governador brasileiro, José Mário Costa defendeu a existência de orientações do ponto de vista ortográfico a serem seguidas, nomeadamente pelas entidades públicas, jornais e televisões.

O jornalista deu como exemplo o erro comum de abreviar os números ordinais.

José Mário Costa explicou que se escreve muitas vezes primeiro com um (um) numérico e um (o) em expoente, quando deveria ser um (um) numérico seguido de um ponto (.) e só depois o (o) em expoente.

As abreviaturas são sempre seguidas de um ponto, referiu.

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