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Kandahar fica na região mais violenta, mas fora dos distritos piores

por Agência LUSA

Kandahar, capital da província com o mesmo nome no sul do Afeganistão para onde foram destacados militares portugueses, situa-se na região mais violenta do país, mas fora dos dois distritos onde os combates têm sido mais acesos.

Os 120 a 140 militares portugueses transferidos de Cabul para o sul do Afeganistão têm por missão proteger o perímetro do aeroporto de Kandahar, a cerca de 15 quilómetros a sudeste da cidade, rendendo forças canadianas recolocadas em posições mais ofensivas.

O aeroporto foi construído nos anos 1970 com apoio financeiros e técnico dos Estados Unidos, foi bombardeado pelos soviéticos na década de 1980 e pelos norte-americanos em 2001, e serve actualmente de base militar às forças estrangeiras no Afeganistão.

A missão dos militares portugueses em si, de defesa de posições fixas, é menos arriscada do que a desempenhada pelas forças - sobretudo britânicas, canadianas e holandesas - que realizam nesta altura operações ofensivas nas províncias, vizinhas, de Kandahar e de Helmand.

Mas o teatro de operações apresenta riscos importantes, tendo em conta que os distritos de Panjawi e Zhari, situados na mesma província e que distam apenas cerca de 35 quilómetros da cidade de Kandahar, estão entre os locais abrangidos pela ofensiva da NATO onde se têm registado os confrontos mais violentos.

A cidade de Kandahar é a segunda maior do Afeganistão e serve de capital à província de Kandahar, cuja área total, 47 mil quilómetros quadrados, é equivalente a mais de metade do território português.

Até à ofensiva militar lançada contra o Afeganistão em Outubro de 2001, a cidade de Kandahar era o bastião do regime talibã (1996- 2001): o movimento fundamentalista nasceu ali e foi ali que o "mullah" Omar foi declarado líder religioso dos talibãs.

A província, e a cidade, estão actualmente no centro do aumento da violência registado desde o princípio do ano no Afeganistão e na origem da decisão da força da NATO de destacar em Agosto cerca de 8.000 soldados - sobretudo britânicos, canadianos e holandeses - para o sul do país, onde a segurança estava até aí a cargo das forças norte- americanas e afegãs.

Kandahar é palco, juntamente com a província vizinha de Helmand, da Operação Medusa, lançada pela Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF) no início deste mês e que se saldou, até agora, na morte de mais de 500 combatentes talibãs e da Al-Qaida, 100 deles num único dia nos referidos distritos de Panjawi e Zhari.

O comandante militar dos talibãs para o sul do país, o "mullah" Dadullah, refuta os números de mortos avançados pela NATO e ameaça matar os jornalistas que divulguem a "propaganda da ISAF", acrescentando que tem 500 bombistas suicidas preparados para atacar "os intrusos".

A NATO afirma que a Operação Medusa está a correr bem e que já foram atingidos "dois terços" dos objectivos estabelecidos, nomeadamente a recuperação do controlo em 65 por cento das "zonas contestadas" dos distritos de Zhari e Panjawi, ambos na província de Kandahar, e a eliminação de 500 dos 700 combatentes talibãs e da Al- Qaida que calcula estarem escondidos na região.

Mas o próprio comandante operacional da NATO, o general James Jones, admitiu há dias que a Aliança Atlântica foi surpreendida pelo "nível de intensidade" da resistência às suas forças no sul, frisando todavia que a situação "não é crítica".

"Antes não havia aqui [nas províncias do sul] quase ninguém.

Pela primeira vez, temos milhares de soldados nesta região, (Ó) o centro do país talibã, o centro da produção de droga e, em termos mais gerais, uma região fora-da-lei, onde o crime e a corrupção prosperam", disse.

Segundo o comandante das tropas britânicas, general Ed Butler, os confrontos que envolvem os cerca de 5.000 soldados britânicos integrados na Operação Medusa, estacionados sobretudo em Helmand, são "de uma intensidade extraordinária", "às vezes, corpo a corpo".

Desde o início da Operação Medusa, a 02 de Setembro, 20 militares da ISAF morreram, cinco canadianos em combate e 15 britânicos, 14 deles num avião que se despenhou.

As dificuldades em pacificar o Afeganistão e abrir caminho à reconstrução levaram aliás a NATO a pedir, esta semana, um reforço de 2.000 a 2.500 militares para a ISAF.

Uma reunião de responsáveis militares realizada quarta-feira na sede da organização não permitiu assegurar esses reforços, pelo que o assunto ficou adiado para uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO prevista para dentro de oito dias em Nova Iorque.

A ISAF conta actualmente com cerca de 20.000 militares de 37 países, quase metade dos quais estão nas províncias do sul. Aos soldados da NATO no Afeganistão, juntam-se outros 20.000 militares norte-americanos.


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