João Dias da Silva. Um clássico na educação que não gosta de adjetivar o sindicalismo

por Lusa

Professor de português-francês, João Dias da Silva trabalhou diretamente com alunos entre 1972 e 1996. Foi parar ao sindicalismo de forma "quase automática" e continua a sentir-se professor.

Coleciona selos e ouve música clássica, mas não gosta do adjetivo ´clássico´ aplicado ao sindicalismo.

Quando lhe perguntam que impacto tem no sindicalismo clássico a entrada em campo do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop) ri-se: "Tenho andado a pensar que adjetivos é que podemos colocar aqui...Agora os mais antigos são os clássicos, como os carros, está bem!"

João Dias da Silva licenciou-se em filologia românica, "um curso que já não existe", lembrou em entrevista à Lusa, a propósito do percurso que o levou ao sindicalismo.

"Uma pessoa ia trabalhar e sindicalizava-se. Fazia parte da vida das pessoas em todos os setores, estar a trabalhar e estar sindicalizado. Mal foram constituídos os sindicatos, a seguir ao 25 de Abril, sindicalizei-me. Era o que era adequado fazer-se", recordou.

Começou a dar aulas na Escola Industrial de Ovar, passou pelo Liceu de Matosinhos, pela Escola Industrial e Comercial de Gaia, pela Secundária de Paredes e pela de Rio Tinto. É quadro da Escola Secundária de Valongo. "Andei por aí, não muito longe. Não tive a precariedade que os meus colegas hoje têm", admitiu.

Foi convidado para integrar a direção do Sindicato dos Professores da Zona Norte e chegou em 2004 à liderança executiva da federação. Ser professor foi uma opção "claramente afetiva", nas palavras de Dias da Silva, para quem a sala de aula foi sempre o que mais o preencheu: "O trabalho com os alunos, vê-los crescer, ajudá-los, acompanhá-los no seu processo de crescimento. É sempre uma relação muito forte".

Sente saudades da sala de aula e do trabalho colaborativo com os outros docentes. "Hoje em dia, as escolas deixam muito pouco espaço, poucas condições, para este trabalho, que é essencial", lamentou.

Ainda não tem tempo para hobbies, como voltar a organizar a coleção de selos que iniciou na juventude e à qual promete dedicar atenção quando se aposentar da liderança sindical. Nos tempos livres, o ainda secretário-geral, gosta de ver filmes e de ouvir música, clássica, "preferencialmente".

João Dias da Silva vai continuar ligado à associação que a FNE tem para a Formação e Investigação em Educação e Trabalho, a AFIET. "Vou continuar a estudar, a ler e a contribuir com trabalho. O tempo não vai ser só para hobbies", avisou.

Tenciona também cumprir o mandato como conselheiro do Comité Económico e Social Europeu, até 2025.

Nos próximos meses, a FNE discutirá a sucessão de João Dias da Silva, sendo potenciais candidatos ao cargo de secretário-geral os presidentes dos sindicatos de professores da Zona Norte e da Zona Centro.

"É um debate que deverá agora ocorrer nos próximos tempos", adiantou Dias da Silva, referindo que tudo está ainda em aberto.

Questionado sobre o sucessor respondeu: "Qualquer presidente de um sindicato, o presidente do Sindicato da Zona Norte, o presidente do Sindicato dos Professores da Zona Centro, o Pedro Barreiros, o Manuel Teodósio [respetivamente]. Há outros sócios destes sindicatos que também têm perfil para poderem vir a ser secretário-geral. As direções dos sindicatos discutirão e saberão encontrar a pessoa certa para o lugar".

"Não temos feito esse debate. Temos estado tão ocupados com todas estas matérias de contestação e de negociação que temos adiado o debate que deve existir entre os sindicatos para que identifiquem, entre si, qual a pessoa que deve ser secretário-geral, um dirigente ou uma dirigente", acrescentou.

A sucessão será decidida no Congresso da FNE, em Aveiro, a 20 e 21 de maio.

A Federação congrega 10 sindicatos -- quatro no continente, dois nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira, três de não docentes e o Sindicato dos Professores das Comunidades Lusíadas.

 

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