Jacarandás em Lisboa. Câmara anterior estava contra abate, peticionários lamentam falta de diálogo
Foto: Miguel A. Lopes - Antena 1
Ao contrário do que já foi dito por Carlos Moedas, um relatório sugere que o executivo anterior estava contra o abate de jacarandás na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa. Uma fonte conhecedora do processo fala de um "arraso quase total" inicialmente previsto.
De acordo com um relatório de 2021, consultado pela Antena 1, o problema eram as rampas de acesso ao parque posicionadas na avenida.
“Tudo isto implica o abate de praticamente todas as árvores do separador central da Avenida 5 de Outubro e a ocupação de grande parte do seu subsolo”, lê-se no relatório.
O documento era uma “passagem de pastas” na vereação de urbanismo, quando o mandato de Fernando Medina chegava ao fim e que na altura tinha como vereador Ricardo Veludo.
Já depois de conhecido o relatório, inicialmente dado a conhecer pela Visão e pelo Observador, uma fonte conhecedora na altura do projeto explicou à Antena 1 que a proposta inicial ia resultar num “arraso quase total” dos jacarandás.
A mesma fonte diz que isso se deve à ideia da Fidelidade, promotora do projeto, de interligar dois parques de estacionamento previstos, um na Avenida 5 de Outubro, outro nos terrenos da antiga Feira Popular, onde vai nascer uma urbanização.
Se não fossem as rampas ficarem na 5 de Outubro e a interligação dos parques, “os impactos seriam menores”, afirma a fonte ouvida pela Antena 1.
Apesar da intenção da Fidelidade de replantar árvores nos locais “em que seja possível” no separador central e de acrescentar “um novo alinhamento” num dos passeios laterais, a autarquia não queria aceitar a proposta.
“O signatário elaborou informação no sentido de não aceder às pretensões do promotor”, é indicado no relatório.
O principal argumento da autarquia era o possível incumprimento do artigo 16º do Regulamento do Plano Diretor Municipal.
“Devem ser mantidos os eixos arborizados existentes e qualquer intervenção nestes eixos deve assegurar a manutenção e consolidação dos alinhamentos arbóreos em caldeira ou em canteiro e promover o aumento da superfície permeável”, refere uma das alíneas.
Ataque ao diálogo democrático
O abate e a transplantação de 47 jacarandás estão a mobilizar as populações. Segundo a câmara, há 25 árvores que serão abatidas, havendo a plantação de outras.
Uma fonte oficial do gabinete do presidente Carlos Moedas disse, entretanto, à agência Lusa que começaram a ser plantados jacarandás na avenida, isto depois de ontem terem começado “trabalhos preparatórios” de transplantação.
O assunto tem mobilizado as populações. A petição "Não ao abate dos jacarandás da Av. 5 de Outubro", criada na sexta-feira, 21 de março, já conta com mais de 50 mil assinaturas.
A repórter Oriana Barcelos passou a manhã nesta avenida de Lisboa, onde o corte de árvores está a ser encarado como um ataque ao diálogo democrático.
“Não temos confiança neste momento na câmara”, diz Pedro Franco, um dos primeiros signatários.
Apenas ontem os peticionários reuniram com a autarquia, refere, numa altura em que o assunto “já se trata de diálogo democrático e de envolvimento dos cidadãos nestes processos que acabam por transformar a face da paisagem urbana”.
“Temos de manter aquelas [árvores] que são adultas”, considera Pedro Franco, pelos “benefícios que não se comparam em nada com árvores que se acabaram de plantar”.