As denúncias de abusos sexuais recebidas pelo Grupo VITA já levaram à suspensão de funções de padres enquanto são ouvidos nos processos de averiguação das suspeitas na Igreja Católica portuguesa, revelou hoje a coordenadora da estrutura.
"Temos conhecimento de que alguns suspeitos já foram suspensos de funções enquanto decorre o processo de averiguação canónico. Não vou quantificar, mas algumas vítimas estão na fase de começarem a ser chamadas para serem ouvidas", referiu à Lusa a psicóloga Rute Agulhas, indicando que entre esses casos de suspeitos de abusos sexuais de crianças e jovens se encontram padres.
De acordo com a coordenadora do grupo VITA, os membros desta estrutura têm também acompanhado "em várias situações" as vítimas que fizeram as denúncias nas audições junto das comissões diocesanas e dos institutos religiosos.
Segundo o último balanço divulgado, em 29 de setembro, a estrutura coordenada pela psicóloga já recebeu 57 pedidos de ajuda. Foram reportados 13 casos à Procuradoria-Geral da República e à Polícia Judiciária, além de 31 situações junto das estruturas da Igreja.
Questionada sobre o impacto da realização da Jornada Mundial da Juventude, em Portugal, nas vítimas de abusos sexuais cometidos na esfera eclesiástica, Rute Agulhas realçou que "não é possível generalizar", embora tenha reconhecido um "aumento dos pedidos de ajuda" durante esse período (início de agosto).
"Mais pessoas sentiram-se descompensadas, porque houve um excesso de estimulação com a Igreja Católica, que acabou por ativar muitas memórias e isso trouxe um sofrimento emocional acessório", explicou.
Apesar de notar também que "houve vítimas para quem a Jornada Mundial da Juventude teve um papel positivo", uma vez que, com a presença do Papa Francisco, se sentiram apoiadas para procurar ajuda, a coordenadora do Grupo VITA reconheceu a "raiva" sentida por outras vítimas e as dificuldades que estas sentiram durante esses dias para gerir as emoções.
O Grupo VITA pode ser contactado através da linha de atendimento telefónico (91 509 0000) ou do formulário para sinalizações, já disponível no `site` www.grupovita.pt.
Criado em abril, no âmbito da Conferência Episcopal Portuguesa, assume-se como uma estrutura isenta, autónoma e independente e visa acolher, escutar, acompanhar e prevenir as situações de violência sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica.
O Grupo VITA surgiu na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que, ao longo de quase um ano, validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.