Investigada anterior gestão. Federação Portuguesa de Judo alvo de buscas da Judiciária

por Inês Moreira Santos - RTP
Rui Alves Cardoso - RTP

A Federação Portuguesa de Judo foi esta quinta-feira alvo de buscas por parte da Polícia Judiciária, no quadro de uma investigação à gestão do ex-presidente Jorge Fernandes. Em causa estarão suspeitas da prática de crimes de tráfico de influência, abuso de poder e peculato

"A Federação Portuguesa de Judo vem por este meio comunicar que no presente dia decorreram buscas por parte da Polícia Judiciária na sua sede, em Odivelas, cujo objeto é a gestão por parte do anterior Presidente, no período em que exerceu essa função", adiantou a própria estrutura desportiva.

No mesmo comunicado, a Federação admite estar a "colaborar ativamente com as entidades competentes com o intuito de ver esclarecias todas as questões suscitadas e, consequentemente, ser apurada toda a verdade".



De acordo com o mandato emitido pelo DIAP de Loures, citado pela agência Lusa, estarão em causa suspeitas da prática de crimes de tráfico de influência, abuso de poder e peculato durante o período em que Jorge Fernandes foi presidente, que antecedeu Sérgio Pina, que atualmente lidera a federação.

O atual dirigente disse à Lusa que da sede da FPJ, em Odivelas, foi levada pela Judiciária “documentação de contabilidade entre 2017 e 2023”.

Segundo o despacho do Ministério Público, o mandado de busca e apreensão de tudo o que seja relacionado com os factos da investigação foi emitido para a sede da FPJ, mas também para mais três outros locais.

Jorge Fernandes foi destituído em 2022 após várias polémicas, em especial com um grupo de atletas olímpicos, e por incompatibilidades no exercício da sua função. Na altura, o IPDJ alertou para o risco de suspensão do Estatuto de Utilidade Pública Relativa da federação. Presidente a partir de 2017, esteve à frente de um dos períodos de maior sucesso do judo português, nomeadamente com os dois títulos mundiais e um bronze olímpico de Jorge Fonseca, bem como o ‘vice-título’ mundial de Bárbara Timo.

O dirigente conimbricense não resistiu, porém, a um litígio com vários judocas de topo, entre os quais Telma Monteiro, e acabou alvo de um processo disciplinar do IPDJ, por alegado favorecimento do filho, à época integrado como funcionário da federação.

Nas conclusões do inquérito, o IPDJ determinou a perda de mandato de Jorge Fernandes, por entender que a direção da FPJ infringiu o artigo 51.º do Regime Jurídico das Federações Desportivas (RJFD), que configura a perda de mandato de titulares de órgãos federativos, por inelegibilidade, incompatibilidade ou por terem intervenção em contrato no qual tenham interesse.
Ex-presidente da Federação "admirado" mas tranquilo

O ex-presidente da Federação Portuguesa de Judo já reagiu às notícias das buscas relativas à sua gestão e assegurou estar tranquilo com as buscas ao organismo. Jorge Fernandes revelou ainda que no mandado à sua residência nada foi levado.

“Acordaram-me às 07h00. Estiveram na minha casa, não levaram nada e disseram mesmo que não havia nada de relevante. Foram ao Judo Clube de Coimbra e levaram documentos, de extratos bancários, não levaram computadores, nem nada de especial”, disse à agência Lusa esta quinta-feira à tarde.

O ex-presidente da Federação Portuguesa de Judo entre 2017 e 2023 viu ser cumprido em vários locais um mandado de busca e apreensão no âmbito da investigação.

“Querem ver se houve influência na atribuição de subsídios ao Judo Clube de Coimbra”
, adiantou o dirigente, acrescentando que não tem nada a temer e que sente existirem represálias da atual direção.

Jorge Fernandes questionou se a atual direção não poderá, dentro desta linha de raciocínio, ser “incompetente”, por ter vários membros que fizeram parte da sua gestão.

“Estou admirado com isto. Já ouvi que foi uma denúncia anónima, mas também que foi da parte da federação”
, referiu o ex-dirigente máximo da FPJ e que é, ainda, presidente do Judo Clube de Coimbra.

Jorge Fernandes aproveitou para questionar os critérios da própria Polícia Judiciária, ao lembrar que o seu diretor, Luís Neves, veio esta semana, em plena posse do Comité Olímpico de Portugal, ilibar Fernando Gomes de qualquer suspeita quando ainda decorre investigação à venda da antiga sede da FPF.

A finalizar, lamentou, igualmente, o comunicado divulgado pela federação a expor a situação das buscas, lembrando que quando foi dirigente aconteceu um cenário semelhante no organismo em relação a um mandado de um outro presidente e que ele protegeu a modalidade.

“Estranhamente, é a FPJ que vem falar disto. Qual é o objetivo?”, questionou.

C/Lusa


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