Intervenção de Portugal na independência de Timor-Leste projectou imagem do país - Ana Gomes

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Lisboa, 14 Fev (Lusa) - A deputada europeia Ana Gomes e o embaixador Fernando Neves destacaram hoje o trabalho da diplomacia portuguesa no processo da independência de Timor-Leste, sublinhando que foi essencial para "projectar a imagem de Portugal" no mundo.

"A articulação estratégica em todas as frentes - União Europeia, ONU, ASEAN, Indonésia, responsabilidade política, diplomatas, Organizações Não-Governamentais, media e confiança na causa (timorense) - foi essencial e contribuiu para projectar Portugal", afirmou Ana Gomes.

A deputada europeia falava sobre o tema "A Independência de Timor-Leste" no colóquio "O Serviço Diplomático Português do 25 de Abril à Actualidade e Perspectivas de Futuro", organizado pela Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses, a decorrer na Assembleia da República.

De acordo com Ana Gomes, antiga embaixadora de Portugal na Indonésia, ao longo desse processo foram os diplomatas que souberam interpretar "os interesses de Portugal, o dever de Portugal e as oportunidades no contexto internacional".

A eurodeputada sublinhou ainda que a nível internacional a posição perante Timor-Leste era a de que se tratava de "um problema que o tempo resolveria".

Acrescentou que foi Portugal que pressionou para colocar o tema na agenda das Nações Unidas, tendo o massacre de Santa Cruz marcado "uma viragem determinante" no processo.

"A partir daí e pela primeira vez na Comissão dos Direitos Humanos, houve uma resolução sobre Timor-Leste", disse Ana Gomes.

"Foi a partir do momento em que cai (o ex-presidente indonésio) Suharto" que se criaram condições para uma "abertura de secção de interesses de Portugal na Indonésia", esclareceu.

"Foi possível construir uma relação na Indonésia com a sociedade civil, a nível político e a nível militar, que foi fundamental e possibilitou restabelecer a relação diplomática com a Indonésia", concluiu.

Por seu lado, o secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), o embaixador Fernando Neves, considerou que a negociação sobre a independência de Timor-Leste "é certamente mais implausível na diplomacia dos pós-25 de Abril e a mais implausível de toda a história da democracia portuguesa".

"Timor-Leste teve a sorte de ter uma voz, um Estado soberano, para defender as características do país. Foi uma questão à qual os portugueses se uniram de forma pouco comum", afirmou.

Sublinhando a "forma exemplar" como a diplomacia portuguesa soube acompanhar a questão de Timor-Leste, o embaixador afirmou que "Portugal soube pôr o problema nas Nações Unidas e mantê-lo todos os anos na sua agenda".

Relativamente à questão dos direitos humanos, que Portugal soube "incutir no plano internacional", Fernando Neves disse que teve um maior impacto após o massacre de Santa Cruz e a atribuição do Nobel da Paz ao actual presidente da República timorense, José Ramos Horta, e ao bispo D. Ximenes Belo.

Destacou ainda a mudança no governo da indonésia e a "disponibilidade do novo presidente de consultar o povo timorense" sobre a sua ligação à Indonésia.

"O processo (da independência de Timor-Leste) só podia ter sido desempenhado por uma diplomacia como a portuguesa, com séculos de experiência e grande grau de patriotismo", afirmou.

MCL.


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