Instituição fundada pelo Papa abre-se à comunidade em Cascais para homenagem a Francisco
A delegação portuguesa da Scholas Occurrentes, instituição fundada pelo Papa, convida a comunidade a deslocar-se à sua sede, que Francisco visitou em 2023, para se despedir e agradecer a vida daquele que os membros consideram "um pai".
"É a nossa maneira de nos despedirmos, de agradecermos o legado que Deus nos deixa, de lembrarmos a visita que [Francisco] fez aqui no dia 03 de agosto, na altura da semana da Jornada" Mundial da Juventude (JMJ), disse à Lusa o presidente da Scholas Portugal.
Para homenagear o Papa Francisco, que hoje morreu no Vaticano aos 88 anos, a instituição por si fundada enquanto arcebispo de Buenos Aires vai manter a sua sede em Cascais aberta durante 12 dias, tantos quantos os anos de pontificado do líder da Igreja Católica, explicou Miguel Ribeiro Ferreira.
Nas instalações da Scholas, com as bandeiras a meia haste e várias fotografias do Papa durante a sua visita em 2023 espalhadas pelo espaço, a jovem Mariana Barradas explicou à Lusa a motivação para esta homenagem.
"Eu que já fui participante, voluntária e agora faço parte da equipa, acho que aquilo que é mais importante e o porquê nos estarmos a reunir é, no fundo, de continuar a levar este legado connosco, (...) esta prenda que o Papa nos deu", disse.
Criada em Buenos Aires há 22 anos por Jorge Bergoglio, então arcebispo da cidade, a Scholas Occurrentes é uma escola de cidadania em que os jovens falam sobre os problemas que os preocupam e criam projetos que envolvem o resto da comunidade.
A Portugal, o projeto chegou em 2018, com a participação de 200 jovens oriundos de várias escolas públicas e privadas de Cascais, que representavam diferentes classes sociais e realidades económicas, bem como diferentes religiões.
Hoje, a instituição já está também em Santarém e Ansião e pretende expandir-se para outras pequenas cidades do país, disse Miguel Ribeiro Ferreira.
"Muito mais do que uma ideia, do que uma utopia, [a Scholas Occurrentes] é realmente uma forma de viver", contou Mariana Barradas.
Além de celebrar a memória do Papa, a jovem coordenadora de projetos na Scholas acredita que a iniciativa de se abrir à comunidade irá também ajudar a "aceitar a dor" da partida do fundador da instituição, que para os seus membros "é quase como um pai".
"Uma das coisas que nós aprendemos muito na Scholas é que a dor não é algo de que precisamos de fugir. Muitas vezes a dor ajuda-nos a criar. Então é aceitar essa dor, entrar em contacto com essa dor, para depois podermos criar", disse.
Nas instalações em Cascais, os jovens criaram vários pontos de passagem relativos aos vários momentos que o Papa viveu na sua visita.
À entrada está um quadro sobre a parábola do Bom Samaritano, de que Francisco falou na sua visita, bem como um livro e vários pedaços de papel em que cada visitante pode deixar uma mensagem, que a instituição se encarregará de fazer chegar ao Vaticano.
Junto à Oliveira que Francisco regou durante a visita está uma fotografia desse momento e o regador que usou então e ali ao lado está um pedaço de tela onde os visitantes podem deixar uma pincelada como aquela que o Papa desenhou na parede da Scholas para finalizar um mural de mais de três quilómetros que percorreu no caminho até lá.
No interior estão ainda expostos os paramentos que o pontífice usou nas últimas cerimónias da JMJ.
Para Mariana Barradas, a mensagem principal desta iniciativa da Scholas Occurentes é que a de que é possível "continuar em movimento": "Ou seja, não é pela sua morte que vamos parar. É que é, se calhar, o início de uma nova fase que ainda não conhecemos e de que temos algum medo, mas que é uma fase muito bonita, também, de se viver".
A sede da Scholas em Cascais estará aberta à comunidade durante os próximos 12 dias entre as 10:00 e as 22:00 e na terça-feira às 17:30 haverá um "evento mais especial", em que a comunidade será convidada a reunir-se num momento de silêncio, disse ainda Mariana Barradas.