INEM. "Todos sabemos que a situação é grave", afirma provedora de Justiça

por Antena 1

Foto: Antena 1

Maria Lúcia Amaral pede uma análise urgente do que "está a funcionar mal" e o apuramento de responsabilidades. A provedora de Justiça sublinha que é imperativo perceber o que está a correr mal no INEM.

Em entrevista à Antena 1, Maria Lúcia Amaral considera que a greve do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar às horas extraordinárias, que coincidiu com a greve da Função Pública e que pode ter resultado em falhas graves na resposta a situações urgentes é uma situação preocupante, que tem de ser resolvida. A provedora admite, também, o pagamento de indemnizações.
Foi há oito meses que a provedora pediu a fiscalização da constitucionalidade de normas da lei da morte medicamente assistida. O Tribunal Constitucional ainda não se pronunciou sobre esta lei que foi aprovada no Parlamento no ano passado. A provedora não estranha a demora e reitera que o diploma da eutanásia não é um diploma "qualquer".
Nesta entrevista à Rádio Pública, Maria Lúcia Amaral foi questionada sobre as dificuldades em torno do Serviço Nacional de Saúde e sobre as queixas recebidas. A provedora recorda que muitas das reclamações são apresentadas à entidade própria - a Entidade Reguladora da Saúde (ERS). 

Ainda assim, Maria Lúcia Amaral chama a atenção para o que diz ser um problema pouco conhecido, apesar de grave: há múltiplos casos de doentes que deviam ter acesso a cadeiras de roda ou a andarilhos, por indicação médica, mas que esperam e desesperam porque o Sistema de Atribuição de Produtos de Apoio (SAPA) não funciona como devia.
Quanto à ideia defendida pelo autarca de Loures sobre os despejos de inquilinos de casas municipais, se tiverem participado nos distúrbios do mês passado na Grande Lisboa, Maria Lúcia Amaral afirma que ficou chocada com as declarações de Ricardo Leão. A provedora garante que essa medida não reflete a lei portuguesa e explica que, a existir uma qualquer exceção, ela teria sempre de ser legislada.
Os desacatos que se seguiram à morte de Odair Moniz, baleado por um agente da PSP, preocuparam a provedora de Justiça. Maria Lúcia Amaral insiste que é um dever de todos contribuir para um clima de paz e de tranquilidade social.
No que toca a um outro tema que motivou o debate na praça pública - o direito à greve nas forças de segurança - Maria Lúcia Amaral não afasta a possibilidade de uma discussão. A provedora recorda as particularidades da missão da polícia e lembra que os Governos têm sempre uma palavra no reconhecimento dessa missão.
Sem se referir, em concreto, a nenhum processo judicial, a provedora destaca a relevância das escutas telefónicas nas investigações criminais, mas avisa, por outro lado, que esses meios de obtenção de prova têm de ser usados com conta, peso e medida, a bem dos princípios do Estado de Direito.
Maria Lúcia Amaral pede uma ação concertada entre os vários intervenientes para melhorar as condições de quem entra em Portugal.

O relatório do Provedor de Justiça apresentado, em outubro, no Parlamento revela que 40% do total das queixas recebidas no ano passado são de imigrantes, devido à demora dos serviços ou ao excesso de burocracia. Um cenário que, insiste a provedora, tem de mudar.
Maria Lúcia Amaral iniciou funções enquanto provedora de Justiça em 2017. A jurista e professora universitária foi a primeira mulher, em quase meio século, a ocupar este cargo.

Uma entrevista na Antena 1 conduzida pelo jornalista Frederico Moreno. Produção de Marta Pacheco e Rita Soares.
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