O incêndio deflagrou há praticamente uma semana no concelho da Covilhã e já alastrou a Manteigas, Gouveia, Celorico da Beira e Guarda. Nos últimos dias, as chamas destruíram zonas classificadas como património mundial da UNESCO. Na quinta-feira cinco bombeiros ficaram feridos, três em estado grave.
Ao final da manhã desta sexta-feira, perto das 12h00, estavam no terreno 1.573 operacionais, apoiados por 458 meios terrestres e 15 meios aéreos, de acordo com a informação disponível no site da Proteção Civil.
Na quinta-feira, cinco bombeiros ficaram feridos, três dos quais com gravidade. Os operacionais tiveram um acidente com uma viatura dos bombeiros de Loures quando se deslocavam para uma frente de fogo em Celorico da Beira.
Segundo o comandante nacional da Proteção Civil, Miguel Cruz, o acidente ocorreu na zona que era, ao final da tarde, “a mais complicada” do teatro de operações.
Na quinta-feira, o Governo negou qualquer descoordenação no combate ao incêndio. A secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, admitiu no entanto que há sempre algum tipo de falhas em cenários "complexos".
Em entrevista ao Telejornal da RTP, Patrícia Gaspar explicou que as autoridades não consideraram necessário, até ao momento, ativar o Mecanismo Europeu de Combate a Incêndios que permite ter a ajuda de mais meios no terreno.
Apesar das garantias do Governo, são várias as críticas ao combate deste incêndio. Duarte Caldeira, antigo presidente da Liga dos Bombeiros, fala em “distanciamento” entre a administração central e a administração local e considera “absolutamente preocupante” a ausência de interação entre os vários níveis de poder.
Paulo Pimenta de Castro, especialista em floresta, considera que a gestão territorial em Portugal é “uma gestão de abandono”, sobretudo num incêndio que ocorre num parque natural, onde o peso da conservação é ainda mais importante.
Por sua vez, o antigo presidente do Observatório Independente para a Análise de Incêndios Florestais, Francisco Castro Rego, lamenta que o observatório criado após o incêndio de Pedrógão Grande há cinco anos já não exista.
O incêndio que continua a lavrar na Serra da Estrela é, até agora, o maior do ano. Ocorre numa zona classificada como património mundial da UNESCO, uma distinção que tinha sido alcançada há apenas dois anos.
José Moraes Cabral, presidente da Comissão Nacional da UNESCO, não acredita que o incêndio leve à desqualificação do Geopark. No entanto, uma equipa de especialistas deverá ter de avaliar no local o que ficou danificado pelo fogo.
Lurdes Dias – Antena 1
José Conde, biólogo do Centro de Interpretação da Serra da Estrela, fala em “perdas de biodiversidade muito significativas” com este incêndio, não só ao nível dos habitats mas também das espécies de fauna e flora no parque natural.
Em declarações ao Bom Dia Portugal, Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero, considerou que este incêndio está a provocar danos "irreparáveis" à região.
São áreas "únicas que estão destruídas e que demoraram centenas de anos, milhares de anos" para que se chegasse a determinado tipo de vegetação e à "paisagem marcante daquela zona".
"Esta dimensão do incêndio é absolutamente dramática em termos ambientais, para além obviamente dos impactos sociais que também temos de considerar", acrescentou.
Em comunicado, a Associação Nacional de Conservação da Natureza (Quercus) considera o incêndio "trágico".
Destaca que dos vários hectares que já aderam, perderam-se "florestas e habitats biodiversos do Parque Natural da Serra da Estrela, Zona Especial de Conservação da Rede Natura, assim como geosítiosdo Estrela Geopark da UNESCO, continuando a aumentar a área percorrida pela fogo, com impactes severos sobre a flora, fauna, território e populações".
"Perante as críticas ao desempenho sobre a coordenação dos meios, a Quercus questiona qual foi a intervenção da AGIF –Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais, entidade criada para melhorar a atuação do sistema de prevenção e combate aos fogos?", acrescenta a associação.
Para esta sexta-feira, cerca de 70 concelhos do interior Norte e Centro e Alto Alentejo estão em risco máximo de incêndio.