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Igreja tem de reaprender a sua forma de estar no mundo

por Eduardo Caetano, RTP
Bento XVI demonstrou uma faceta de humor, boa disposição e proximidade com a juventude que muitos não conheciam RTP

Bento XVI reconheceu no seu discurso do Centro Cultural de Belém que "há toda uma aprendizagem a fazer quanto à forma de a Igreja estar no mundo" actual, defendendo um "respeito dialogante" que permita uma comunicação e "respeito por outras verdades".

"Há toda uma aprendizagem a fazer quanto à forma de a Igreja estar no mundo, levando a sociedade a perceber que, proclamando a verdade, é um serviço que a Igreja presta à sociedade, abrindo horizontes novos de futuro, de grandeza e dignidade", afirmou Bento XVI no Centro Cultural de Belém, num encontro com representantes do mundo da cultura e das várias comunidades religiosas representadas em Portugal.

A convivência da Igreja com "o respeito por outras ‘verdades' ou com a verdade dos outros é uma aprendizagem que a própria Igreja está a fazer. Nesse respeito dialogante, podem abrir-se novas portas para a comunicação da verdade", afirmou Bento XVI.

"A cultura reflecte hoje uma 'tensão' que por vezes toma formas de 'conflito' entre o presente e a tradição", reconheceu.

"A dinâmica" da sociedade actual "absolutiza o presente, isolando-o do património cultural do passado e sem intenção de delinear um futuro", acrescentou Bento XVI.

Esta "tal valorização do 'presente' como fonte inspiradora do sentido da vida, individual e em sociedade, confronta-se com a forte tradição cultural do povo português, muito marcada pela milenária influência do cristianismo, com um sentido de responsabilidade global, afirmada na aventura dos Descobrimentos e no entusiasmo missionário, partilhando o dom da fé com outros povos", defendeu.

Tempo em que "o ideal cristão da universalidade e da fraternidade inspiravam esta aventura comum, embora a influência do iluminismo e do laicismo se tivesse feito sentir também", esclareceu.

Essa "sabedoria" da expansão portuguesa constitui um "sentido da vida e da história, de que fazia parte um universo ético e um 'ideal' a cumprir por Portugal, que sempre procurou relacionar-se com o resto do mundo".

Na actualidade, a "Igreja aparece como a grande defensora de uma sã e alta tradição, cujo rico contributo coloca ao serviço" de uma sociedade que "continua a respeitar e a apreciar o seu serviço ao bem comum mas afasta-se da referida sabedoria que faz parte do seu património".

"Este 'conflito' entre a tradição e o presente exprime-se na crise da verdade pois só esta pode orientar e traçar o rumo de uma existência realizada, como indivíduo e como povo", acrescentou.

"Um povo que deixa de saber qual é a sua verdade fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos claramente enunciados", na opinião do sucessor de Pedro.

Razão pela qual, "sinto grande alegria em ver aqui reunido o conjunto multiforme da cultura portuguesa que vós tão dignamente representais", explica dirigindo-se aos que se reuniram no Centro Cultural de Belém para o ouvir.

"A todos testemunho a mais alta amizade e consideração reconhecendo a importância do que fazem e do que são", afirmou o papa.

Segundo dia da visita papalÀs multidões das ruas de Lisboa, segue-se um dia previsivelmente mais calmo para o Papa Bento XVI, mas nem por isso menos intenso. Depois de ter pernoitado na sede daquela que é a Embaixada do Vaticano no nosso país, no quarto de Dom Alfio Rapisardo, Núncio Apostólico em funções, o líder espiritual dos católicos rezou uma missa em privado, após o que seguiu para o Centro Cultural de Belém às 09h45.

Mil e quinhentos representantes das artes, ciências, literatura, mundo universitário, investigação científica e responsáveis das comunidades hindu, judaica, islâmica, ismaelita e evangélica em Portugal tiveram a oportunidade de ouvir aquele que se assume como o sucessor de Pedro, o pescador.

A passagem do Papa por Lisboa termina com um encontro com o Primeiro-Ministro no Palácio de São Bento, partindo depois para Fátima de helicóptero, onde está previsto chegar pelas 17h10.

No Santuário de Fátima encontram-se já milhares de peregrinos que esperam pela presença de Bento XVI no local sobre o qual Bento XVI afirmou, recordando o Cardeal Cerejeira, "não foi a Igreja que impôs Fátima, foi Fátima que se impôs à Igreja".

O helicóptero aterrará às 17h40 no estádio municipal de Fátima, transformado em heliporto, de onde o Papa seguirá no papamóvel até ao Santuário num percurso com três quilómetros. Centenas de crianças esperá-lo-ão, à semelhança do que aconteceu em Lisboa no Terreiro do Paço, quando chegar à Capelinha das Aparições. Depois de saudar Nossa Senhora de Fátima, de especial inspiração para o seu antecessor João Paulo II, Bento XVI presidirá na Igreja Santíssima Trindade à celebração das Vésperas, em cerimónia reservada aos membros da Igreja mas transmitida para os ecrãs gigantes instalados no recinto do Santuário.

À noite, a recitação do rosário e a tradicional procissão de velas de 12 de Maio será presidida pelo papa, enquanto a missa que se seguirá será presidida pelo secretário de Estado do Vaticano, Tarcísio Bertone. Bento XVI recolher-se-á ao espaço onde pernoitará, na Casa de Nossa Senhora do Carmo, no santuário, concluindo assim o segundo dia da sua viagem a Portugal.

Um Papa que "está muito à vontade com a juventude"

O primeiro dia da visita de Bento XVI a Portugal terminou com um jantar em privado na Nunciatura Apostólica.

À chegada no papamóvel, Bento XVI era esperado por três milhares de jovens que se mantiveram no exterior até que o líder da Igreja Católica assomou à janela e os saudou.

Visivelmente bem disposto, Bento XVI agradeceu a "participação viva e numerosa dos jovens" durante a sua visita e revelando um humor para muitos desconhecido pediu-lhes que o deixassem dormir, o que provocou uma gargalhada generalizada. Os jovens acataram o desejo papal mas não sem antes lhe cantarem uma sonata interpretando um fado.

No final, os muitos jovens que participaram com visível ânimo no encontro com Bento XVI estavam satisfeitos e "muito emocionados" com as palavras, que qualificaram de "amigas", de um Papa que está "mais perto da juventude do que se pensa".

Vasco Ribeiro, de 19 anos, interpretava bem o sentimento generalizado, quando dizia que "as palavras foram emocionantes. O papa é o líder da Igreja Católica e o sucessor de Pedro. Vê-lo aqui tão perto com palavras tão amigas foi fantástico".

Isabel Vieira, de 20 anos, realçava que "ao contrário do que se pensa este papa está muito à vontade com a juventude".

Lisboa regressa à normalidade

No dia seguinte á gigantesca missa celebrada no Terreiro do Paço, em Lisboa, a capital vai regressando rapidamente à normalidade. As ruas já estão praticamente limpas dos milhares de bandeiras, panfletos, garrafas de água, e outros detritos que a presença de multidões sempre arrasta.

Lisboa recuperou entretanto a sua Praça do Comércio já que limpa do lixo, e prestes a ficar nua sem o altar que lá foi colocado será usufruída em exclusivo pelos peões depois de ter recebido obras profundas.

Mal terminou a missa, logo muitos funcionários de limpeza de trabalhadores dedicaram-se à tarefa de limpar e desmontar as estruturas de apoio à homilia. Cadeiras e ecrãs rapidamente desapareceram da Praça.

A Av. Infante D. Henrique está e continuará vedada durante dois ou três dias entre o Campo das Cebolas e a Praça do Comércio, enquanto durarem as operações de remoção de todas as estruturas do altar.

A noite foi de descanso para o Papa e para os muitos crentes que participaram nas cerimónias, mas foi de duro e intenso trabalho para os trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa, que durante a noite tiveram de devolver à cidade a limpeza para que hoje, quarta-feira, no segundo dia da visita de Bento XVI, ela esteja em forma para o receber.

Os funcionários camarários e os veículos de limpeza estiveram nas ruas da capital, começando no Terreiro do Paço até às ruas da Baixa pombalina, passando pelas zonas de Alcântara, Belém, Marquês de Pombal, Avenida da Liberdade, Restauradores e Rossio. O resultado foi que quem acordou esta manhã e circulou na cidade a encontrou perfeitamente limpa, como se nada se tivesse passado na véspera.

Transito reaberto mas com algumas restrições

O primeiro dia da visita papal a Lisboa trouxe grandes incómodos aos automobilistas quer no ponto de vista do estacionamento com muitos locais a serem interditos e as viaturas retiradas quer à circulação com artérias encerradas à circulação.

Ao final de terça-feira, a circulação automóvel foi restabelecida na Baixa, no Cais do Sodré, na Avenida 24 de Julho, nas zonas de Belém e de Alcântara, na Avenida da Liberdade, nos Restauradores e no Rossio, artérias onde já se vêem vários carros estacionados, tendo os parques de estacionamento sido reabertos.

O segundo dia da visita do papa a Portugal obriga a alguns cortes de trânsito nos trajectos de Bento XVI da Nunciatura Apostólica para o Centro Cultural de Belém (CCB) e para o aeroporto.

A saída de Bento XVI, às 09h45, em viatura fechada, da Nunciatura para o CCB, vai levar ao encerramento momentâneo da circulação automóvel nas avenidas Luís Bívar, Fontes Pereira de Melo, Eng Duarte Pacheco, das Descobertas, do Restelo, da Torre de Belém e da Índia, bem como na Rua Pinheiro Chagas, na Praça do Marquês de Pombal e na envolvente do CCB.

As mesmas artérias voltarão a estar temporariamente fechadas a partir das 11h00, quando o papa regressar à Embaixada da Santa Sé.

À tarde, entre as 15h00 e as 17h00, o percurso em papamóvel desde a Nunciatura até ao Aeroporto de Figo Maduro obrigará ao corte de trânsito nas avenidas Luís Bívar, Fontes Pereira de Melo, da República, Estados Unidos da América, Almirante Gago Coutinho, assim como na Rua Pinheiro Chagas, na Praça Duque de Saldanha, em Entrecampos e nos acessos ao aeroporto.

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