ICNF dá luz verde a abate de árvore classificada e em risco de queda na Figueira da Foz

por Lusa

O Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) deu hoje luz verde à autarquia da Figueira da Foz para abater um freixo com cerca de 300 anos, classificado de interesse público, por este representar perigo para a segurança.

Em comunicado enviado à Lusa, a Câmara Municipal transcreve um ofício recebido hoje do ICNF, onde aquele organismo assume "não haver alternativa" à remoção da árvore - afetada "severamente" pela tempestade Leslie de outubro de 2018, quando "ficou apenas com duas pernadas e em situação de elevada perigosidade" - numa altura em que já apresentava sinais de grande degradação e tinha sido intervencionado.

O texto, enviado à autarquia em nome da diretora regional da Conservação da Natureza e Florestas do Centro, esclarece que, após a tempestade de outubro de 2018, o ICNF "procedeu a uma vistoria técnica, tendo concluído que o freixo [localizado no popularmente chamado Páteo de Santo António] se encontrava em muito mau estado fitossanitário e sem possibilidade de recuperação, face à extensão e profundidade das podridões que apresentava".

Em duas ocasiões posteriores à tempestade, em 22 de maio e 05 de junho, a empresa Árvores e Pessoas, contratada pelo município da Figueira da Foz para avaliar o freixo, propôs o abate daquele exemplar, adianta a nota do município.

Acrescenta que esta empresa tinha já anteriormente sido responsável, em junho de 2016, por uma avaliação da árvore, classificada sete anos antes, que resultou, em abril do ano seguinte, numa "poda de redução e aplicação de sistema de ancoragem de pernadas", na tentativa de estabilizar o freixo.

Apesar do parecer daquela empresa, a autarquia da Figueira da Foz solicitou uma nova avaliação a uma equipa coordenada por Luís Martins, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (que o próprio ICNF define como "um dos maiores especialistas" portugueses nesta área), a qual, "permitiu confirmar o mau estado fitossanitário do freixo e a elevada condição de risco e irreversibilidade dos sintomas observados", lê-se no ofício do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas.

"Perante essa constatação, depois de ponderada a hipótese de desenvolver um projeto de sustentação das duas pernadas, mas afastada face ao respetivo estado de degradação e grande peso, foi concluído que os dados de natureza biológica e o risco severo de fratura das pernadas, recomendavam o abate do freixo", enfatiza o ICNF.

"Embora uma decisão desta natureza não seja fácil, dada a perda de um valor importante na memória coletiva e no património local e nacional, afigura-se não haver alternativa à sua remoção", acrescenta aquela entidade, que frisa que a árvore poderá ser desclassificada depois de abatida.

O relatório do pedido de avaliação ao especialista da UTAD foi divulgado na segunda-feira na reunião da Câmara da Figueira da Foz e concluiu pelo abate do freixo por "risco severo de fratura".

No ofício hoje divulgado, o ICNF argumenta que, "não obstante os esforços desenvolvidos pela Câmara Municipal da Figueira da Foz no sentido de recuperar o freixo em apreço, essa possibilidade não se mostrou viável" e equaciona a substituição da árvore "por um seu clone, como forma de o eternizar e perpetuar os valores que lhe estão associados".

A exemplo, aliás, do defendido pela equipa de Luís Martins, que defendeu a plantação de um novo freixo.

"Assim, perante a inevitabilidade de manter sem risco sério para a segurança de pessoas e bens o freixo classificado de interesse público, julgamos que deverá ser esse o esforço a desenvolver", assinala o ICNF, que agradece ao presidente da Câmara Municipal "a preocupação pela conservação do arvoredo, em particular do arvoredo classificado de interesse público".

O freixo, localizado junto à igreja do antigo convento de Santo António, é uma das duas únicas árvores classificadas como de Interesse Público do município da Figueira da Foz (a outra é um plátano com 250 anos, situado na Quinta de Foja, no nordeste do concelho).

Datado do início do século XVIII, o freixo é anterior à elevação da Figueira da Foz a cidade (1882) e mesmo a vila (1771).

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