Depois de o juiz Neto de Moura ter anunciado que vai processar vários humoristas, jornalistas, políticos e comentadores que o criticaram na sequência de acórdãos polémicos, surgiram durante o fim de semana várias respostas por parte dos visados e de outras personalidades públicas. Ricardo Araújo Pereira e Bruno Nogueira, dois dos humoristas de maior renome que o magistrado vai processar, reagiram à decisão nos respetivos programas.
A “lista negra” de Neto de Moura inclui várias personalidades públicas, incluindo políticos como Mariana Mortágua ou a comentadora Joana Amaral Dias. Foi revelada no último sábado pelo Expresso. As reações multiplicaram-se durante o fim de semana, mas o início desta semana fica marcado pela reação dos humoristas.
Em resposta à publicação da lista de figuras públicas que o juiz desembargador pretende processar, os dois humoristas lançam igualmente críticas ao advogado escolhido, mas também à Associação Sindical de Juízes Portugueses.
“O juiz sente-se ofendido e está no seu direito. Se o senhor não se sentisse ofendido, provavelmente eu não estava a fazer bem o meu trabalho" - Bruno Nogueira
“A Associação de Juízes acha que enxovalhamos o doutor Neto de Moura quando basicamente quase só fizemos citações do acórdão”, diz Bruno Nogueira, que se refere jocosamente às palavras de Manuel Soares, presidente da referida associação: “Um juiz também tem direitos, não é apenas um saco de pancada. Já uma mulher (…) aguente-se”.
Neste último, o juiz do Porto justificou a pena suspensa com o facto de a vítima ter cometido adultério, recorrendo a citações da Bíblia para fundamentar a decisão.
“O juiz sente-se ofendido e está no seu direito. Se o senhor não se sentisse ofendido, provavelmente eu não estava a fazer bem o meu trabalho. Também me sinto ofendido com o que o senhor escreve nos seus acórdãos”, aponta Bruno Nogueira na crónica que é também escrita por João Quadros.
O humorista diz-se surpreendido ao “descobrir que o juiz que desvalorizou agressões a uma criança de quatro anos e respetiva mãe, afinal, tenha tamanha sensibilidade”
“Um juiz que trai o Código Civil e usa o preconceito da Bíblia e até leis de 1886 não tem qualquer probidade moral nem para ser juiz, quanto mais para dar lições de moral seja a quem for”, diz Bruno Nogueira.
Já a pensar no julgamento, Bruno Nogueira garante: “Não vou levar uma moca com pregos para o agredir, mesmo sabendo que isso me poderia valer a absolvição”.
Outro humorista a reagir foi Ricardo Araújo Pereira, no seu programa semanal na TVI, Gente Que Não Sabe Estar, volta à carga com críticas aos acórdãos polémicos e acusa jocosamente o juiz de desvalorizar episódios de violência.
“Na perspetiva dele, rebentar um tímpano ainda é como o outro, agora escárnio, sarcasmos, isso aleija”, refere.
Ricardo Araújo Pereira diz que o magistrado “apela ao poder de encaixe das mulheres no que toca a socos, mas tem dificuldade em encaixar paródia”.“Não deve ser fácil ter um país inteiro a chamar-lhe retrógrado, misógino e machista só porque ele é retrógrado, misógino e machista" - Ricardo Araújo Pereira
O humorista traça uma situação hipotética em que uma mulher se queixa em tribunal, mas não de violência física.
Também o humorista se imagina no banco dos réus na sequência do processo que o juiz prometeu encetar: “Gostava de ser julgado pelo próprio Neto de Moura. Ele sentiu-se agredido por mim e ele costuma estar ao lado dos agressores. Em princípio não me acontece nada”, apontou.
Ricardo Araújo Pereira apontou ainda que “não deve ser fácil ter um país inteiro a chamar-lhe retrógrado, misógino e machista só porque ele é retrógrado, misógino e machista”.
A finalizar o programa, o humorista lançou um jogo “para salvar o juiz Neto de Moura das ofensas da opinião pública”, para que este chegue “a casa limpinho para escrever mais acórdãos infames”.
De acordo com o advogado Ricardo Serrano Vieira, em declarações à TSF e ao jornal Público, o juiz pretende avançar com um processo contra um total de 20 pessoas, em que se incluem não só os humoristas Ricardo Araújo Pereira, Bruno Nogueira, João Quadros e Diogo Batáguas, mas também Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, Joana Amaral Dias, comentadora, e ainda a jornalista Fernanda Câncio.
De acordo com o advogado Ricardo Serrano Vieira, em declarações à TSF e ao jornal Público, o juiz pretende avançar com um processo contra um total de 20 pessoas, em que se incluem não só os humoristas Ricardo Araújo Pereira, Bruno Nogueira, João Quadros e Diogo Batáguas, mas também Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, Joana Amaral Dias, comentadora, e ainda a jornalista Fernanda Câncio.