Holanda - Portugueses alegadamente explorados são jovens ou desempregados
Os portugueses que estão alegadamente a ser vítimas de exploração laboral na Holanda são jovens à procura do primeiro emprego ou desempregados com mais de 40 anos, segundo o conselheiro das Comunidades Portuguesas naquele país.
"Os trabalhadores portugueses que vieram para a Holanda e se encontram nesta situação dramática são jovens entre os 15 e os 20 anos, que andam à procura do primeiro emprego, mas encontram-se também pessoas com mais de 40 anos que estavam desempregadas", disse José Xavier à Agência Lusa.
Na sua maioria, os trabalhadores são provenientes do Norte de Portugal, nomeadamente de Fafe e Guimarães, existindo ainda um maior número de homens do que de mulheres a ir para a Holanda, indicou.
O conselheiro falava à Lusa na sequência da denúncia da exploração laboral a trabalhadores portugueses, que estarão a trabalhar e a viver em condições sub-humanas na Holanda.
Segundo relatos de trabalhadores ao responsável, cerca de 50 portugueses estão a trabalhar na região de Den Hélder, norte da Holanda, em regime de quase escravidão e a viver em condições degradantes.
Os portugueses chegam à Holanda através de um anúncio de jornal colocado por pseudo-empresas angariadoras de "mão-de-obra barata que lucram, no mínimo, 10 euros por cada trabalhador e não fazem quaisquer descontos", explicou o conselheiro José Xavier.
O salário que os engajadores recebem por cada trabalhador/hora é de cerca de 15 euros, dos quais apenas dão cinco aos assalariados que "fornecem" às empresas holandesas.
Esses emigrantes não falam holandês e a maioria também não sabe inglês, são transportados para o trabalho em carrinhas da empresa que os contratou e são obrigados a trabalhar entre 14 a 16 horas diárias.
"Este é mais um de uma série de problemas semelhantes que têm existido na Holanda com portugueses", afirmou o conselheiro.
Para o responsável, a actual situação ganha contornos "mais graves porque, há um ou dois anos os trabalhadores pensavam que iam ganhar uma coisa e ganhavam outra, mas agora já sabem que vão ganhar apenas cinco euros por hora" a embalar legumes, frutas ou flores.
"A necessidade é tão grande que vêm nessas condições", afirmou José Xavier, acrescentando que, ao contrário do que muitos portugueses pensam, os trabalhos para que são contratados são temporários e ao fim de um mês podem ficar parados.
Para o conselheiro das Comunidades Portuguesas, "o mais grave é que esta situação também está a ser do interesse de Portugal, porque estas pessoas deixam de constar dos centros de emprego, não pedem rendimento mínimo nem subsídio de desemprego e a delinquência social desaparece do país para ir para fora".
"Os governos português e holandês têm de tratar deste assunto porque estas pessoas são seres humanos que estão a ser atirados para um gueto social que não existia", defende José Xavier.
Contactada pela Agência Lusa, a presidente da Federação da Comunidade Portuguesa na Holanda, Teresa Heymans, vai mais longe e considera que o problema pede medidas mais drásticas.
"Esta questão já não pode ser tratada a nível local. Tem de ser tratada a nível da União Europeia porque há Direitos do Homem que estão a ser ultrapassados", disse.
"Essas pessoas não têm o que comer, não têm dinheiro e muitas vezes são sujeitas a maus-tratos e a ameaças de morte, por isso, é que têm medo de falar com as autoridades", explicou a responsável.
Para Teresa Heymans, era importante que a "Europa colocasse na sua agenda política esta situação, que é uma autêntica escravatura e já atingiu proporções tão grandes que abrange também Inglaterra, Bélgica, Alemanha, Suíça e Espanha".
Em declarações à Agência Lusa, fonte da Embaixada de Portugal na Holanda afirmou que "as autoridades estão atentas e a acompanhar a situação com total empenho".
O embaixador de Portugal na Holanda vai estar reunido hoje à tarde, em Lisboa, com o secretário de Estado das Comunidades, António Braga, devendo este assunto ser abordado.