Foto: Ahmed Saad, Reuters
Ângela Barreto tinha 19 anos quando viajou da Holanda para a Síria sem a família saber. Casou com outro português, Fábio Poças, combatente do Estado Islâmico.
Depois de ficar viúva acabou num campo de refugiados com dois filhos. Perdeu a filha de três anos há uma semana, vítima de estilhaços de uma bomba.
Na Síria, falou agora em exclusivo para a RTP e contou porque quer regressar a Portugal, mas sem nunca rejeitar a fé islâmica.
As raízes portuguesa de Ângela estão na localidade de Galveias, mas há muito que a família saiu daqui. A mãe de Angela e outros familiares emigraram para a Holanda onde a menina nasceu.
Na adolescência começou a sentir-se atraída pelas práticas islâmicas e a propaganda extremista online do Daesh radicalizou-a. A 9 de Agosto de 2014, dia em que a mãe e a irmã não estavam em casa, Ângela fez as malas e partiu.Tinha 19 anos.
Fábio Poças, era um combatente do Daesh conhecido por Abdurahman Al Andalus. Morreu há mais de um ano num bombardeamento.
Depois de cruzar a fronteira entre a Turquia e a Síria, Ângela Barreto casou com Fábio Poças na que foi conhecida como a capital do Califado, Raqqa. No ninho dos extremistas, Angela acabou por conviver com mais três mulheres de Fábio.
Após a queda de Raqqa, na ofensiva internacional contra o Estado Islâmico, restava ao Daesh um último reduto: Baghouz. Foi para lá que Ângela seguiu com os dois filhos.
Os bombardeamentos intensivos sobre Baghouz durante o mês de Março derrotaram o que restava da estrutura do Daesh e atingiram a filha de Angela. A noiva portuguesa do Daesh rendeu-se e seguiu, tal como as mulheres e os filhos dos combatentes radicais que acabaram por chegar ao campo de Al Hol em camiões, despejados para um amontoado de dificuldades.
Serão cerca de 24 mil os familiares dos membros do Daesh entre 80 mil deslocados que fazem transbordar um campo de acolhimento temporário em território curdo sirio. Angela passou os dias entre o campo e o hospital de Al Hassakah dado o estado da filha.
O hospital de Al Kassakah, a cerca de 50 quilómetros do campo de Al Hol rebenta pelas costuras. Aqui chegam diariamente crianças e adultos feridos ou queimados devido aos bombardeamentos, mas também desnutridos. O pessoal médico qualifica a situação de trágica, dada a falta de medicamentos e de meios para assistir a tanta dor.
A morte de crianças acontece todos os dias.
A trajetória de Angela deixa-a com um horizonte incerto. Na Holanda enfrenta um mandado de captura, é suspeita de ter recrutado através das redes sociais três raparigas menores para se juntarem ao califado extremista.
Depois de tudo o que viveu, as convicções sobre o Daesh já não são as mesmas.
Angela possui dois passaportes, um holandês e um português. Durante muito tempo ignorou a família mas agora sabe que têm tentado junto do governo português o repatriamento.
A vida de Angela está nas mãos das autoridades curdas no campo de Al Hol, onde falta água, comida, medicamentos, onde existem pessoas de 54 nacionalidades.
Rússia, Canadá, Bélgica, Estados Unidos são alguns dos países que já retiraram alguns menores deste local. Mas a maioria dos que subsistem por aqui são crianças com violentas histórias coladas à pele.