Uma associação espeleológica alertou hoje que a entrada de uma das principais grutas do Algarve, próximo de Paderne, "está tapada" desde 2003 por entulho das obras da marina de Albufeira, contrariando as "repetidas promessas" da autarquia.
"Denunciámos publicamente a situação há um ano e oito meses, a câmara prometeu que ia resolvê-la com brevidade e pura e simplesmente nada aconteceu", disse à Lusa o espeleólogo João Varela, do Centro de Estudos Espeleológicos e Arqueológicos do Algarve (CEEAA).
Segundo João Varela, em Março de 2004, depois das primeiras denúncias daquela associação, a Câmara de Albufeira garantiu que a única passagem da gruta do Escarpão, a norte de Paderne, concelho de Albufeira, seria desobstruída em breve e observava que os empreiteiros tinham sido notificados dois meses antes.
Mas situação não se alterou e a associação não teve qualquer resposta aos múltiplos ofícios enviados à autarquia, acrescentou.
"Quando lemos na Imprensa que a Câmara tinha admitido que aquela acumulação de terras tinha sido um erro e que a entrada na gruta seria reposta, ficámos descansados", diz João Varela, que garante ter entretanto mandado vários ofícios ao município e ao Ministério do Ambiente, sem resultados práticos.
Situada num terreno privado, a única entrada da gruta está "tapada por toneladas de terra" desde 2003, graças à acumulação de entulho para ali levado por algumas empresas na altura da construção da marina de Albufeira, com assentimento da autarquia.
O CEEAA, uma das poucas associações espeleológicas do Algarve, já estudava há alguns meses aquela gruta, uma das mais importantes da região, com um rio subterrâneo de dezenas de quilómetros.
A própria Sociedade Portuguesa de Espeleologia, a mais importante entidade congénere a nível nacional, tinha um mapa detalhado da gruta e descobriu que o rio desagua em Quarteira.
De acordo com os especialistas, a gruta pode ser utilizada no futuro para visitas controladas, o que contribuiria para aumentar a oferta turística de Albufeira durante a época baixa.
O CEEAA encontrava-se a meio do trabalho de pesquisa da gruta que só poderiam continuar com recurso a mergulhos com garrafas de oxigénio.
A descarga de terras na propriedade privada do Escarpão foi autorizada pela Câmara de Albufeira no ano 2000, depois de um acordo entre o proprietário e a Sociedade de Desenvolvimento do Porto de Recreio para que ali fossem depositadas as terras provenientes das obras da marina.
Em declarações à Agência Lusa, o presidente da Câmara Municipal de Albufeira remeteu para "mais tarde" uma resposta sobre a situação concreta do processo, mas lamentou que as diligências do município em Março do ano passado não tenham conseguido os seus intentos.
"Sinceramente, não sei o que se passou desde então, sei que na altura pus os serviços a mexer e tudo estava no bom caminho", disse, admitindo ter ainda esta semana uma resposta dos seus serviços.
Também em declarações à Lusa, a 18 de Março de 2004 o mesmo autarca reconhecia ter-se tratado de um erro dos empreiteiros ao serviço da construção do Porto de Recreio, mas garantiu que a passagem seria desobstruída nas próximas semanas.
Na altura, Desidério Silva sublinhou que aquelas descargas impediram que as terras da obra fossem depositadas no mar, pelo que a autarquia não hesitou em conceder autorização para o efeito, embora desconhecesse a existência da gruta, que não estava identificada.
"Notificámos a Sociedade do Porto de Recreio há cerca de dois meses, quando tomámos conhecimento do problema, mas os empreiteiros não conseguiram encontrar a passagem", disse então, admitindo a hipótese de recorrer ao centro espeleológico algarvio para que fosse o CEEAA a indicar o local exacto da passagem.
O espeleólogo João Varela, por seu turno, garantiu à Lusa não ter sido contactado por ninguém com aquele ou outro objectivo relacionado com a gruta.