A coordenadora do Grupo VITA assume "algumas dificuldades" nestes primeiros seis meses desde a apresentação pública, mas faz um "balanço positivo", num momento em que regista 62 pedidos de ajuda de vítimas de violência sexual na Igreja Católica.
"Fazemos um balanço positivo destes primeiros seis meses e sentimos que existe um processo gradual de confiança por parte de quem nos pede ajuda. Reconhecemos que este é um caminho sinuoso e temos enfrentado algumas dificuldades, especialmente relacionadas com o facto de ser necessário melhorar processos de comunicação e de articulação com algumas estruturas eclesiásticas", disse a psicóloga Rute Agulhas, num comunicado enviado às redações.
Sublinhando a sua convicção de que "é possível um caminho de verdadeiro trabalho em parceria" com as diferentes instituições ligadas à Igreja Católica, a psicóloga deixou também um apelo a que mais pessoas peçam ajuda. Adiantou ainda que, na articulação com as dioceses e os institutos religiosos, já há 12 pessoas a receber apoio psicológico e outras duas têm apoio psiquiátrico.
"Realizaram-se até ao momento 42 atendimentos, presenciais e `online`, por forma a recolher informação que permita, depois, a devida sinalização e encaminhamento para as entidades competentes.
Observa-se um equilíbrio em termos de género, variando a idade entre os 16 e os 75 anos. Foram já sinalizadas 41 situações para estruturas da Igreja e 14 para a Procuradoria-Geral da República", referiu.
O último balanço, em 29 de setembro, contabilizava 57 pedidos de ajuda e a comunicação de 13 casos à Procuradoria-Geral da República e à Polícia Judiciária, além de 31 situações junto das estruturas católicas.
Rute Agulhas destacou igualmente as ações de sensibilização e formação junto de estruturas eclesiásticas para o acompanhamento de casos de abuso sexual e para o desenvolvimento de boas práticas, lembrando que o "Manual de Prevenção de Violência Sexual no Contexto da Igreja Católica em Portugal" está em elaboração e vai ser apresentado em 12 de dezembro.
O Grupo VITA pode ser contactado através da linha de atendimento telefónico (91 509 0000) ou do formulário para sinalizações, já disponível no `site` www.grupovita.pt.
Apresentado no dia 26 de abril, no âmbito da Conferência Episcopal Portuguesa, entrou em funcionamento cerca de um mês depois, assumindo-se uma estrutura isenta, autónoma e independente e que visa acolher, escutar, acompanhar e prevenir situações de violência sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica.
O Grupo VITA surgiu na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que, ao longo de quase um ano, validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.