O ministro da Agricultura recomendou que Portugal se abstenha no comité de Peritos da União Europeia. Em entrevista à RTP, o governante defendeu ser necessária “muita ponderação”, uma vez que “não é líquido” quais os efeitos do glifosato na saúde. No entanto, Capoulas Santos apontou que um primeiro passo pode passar pela proibição da utilização destes produtos nas cidades. Já no caso da taloamina, Capoulas Santos defende a proibição imediata.
A substância é apontada como “potencialmente cancerígena”. Apesar disso, produtos com glifosato são amplamente usados em Portugal, inclusive por autarquias, e há mesmo portugueses que estão contaminados com a substância.
O ministro da Agricultura pede, no entanto, ponderação. Garantindo que o assunto preocupa o Executivo e elogiando a reportagem da televisão pública, Capoulas Santos recordou que não é ainda “líquido quais os efeitos para a saúde” do glifosato.
O governante defende que um primeiro passo possa ser a proibição da utilização destes produtos nos centros urbanos, onde existe maior concentração de pessoas e onde estes componentes são usados no combate às ervas. Uma posição que surge no dia em que o Diário de Notícias revelou que pelo menos 89 autarquias recorrem a pesticidas com glifosato.
Quanto aos usos agrícolas, Capoulas Santos considera que o assunto deve ser visto “com mais alguma prudência”. O governante tem, no entanto, posição diferente no que diz respeito à utilização de produtos com glifosato e taloamina.“O Governo português é favorável a uma posição semelhante: os coadjuvantes cujos efeitos cancerígenos estejam comprovados, como esse, devem ser imediatamente proibidos”
Este último é um coadjuvante, frequentemente utilizado com o glifosato, e onde estão já comprovados os “indícios de toxicidade”. Aliás, as autoridades francesas proibiram já o recurso a pesticidas que tenham os dois produtos.
“O Governo português é favorável a uma posição semelhante: os coadjuvantes cujos efeitos cancerígenos estejam comprovados, como esse, devem ser imediatamente proibidos”.
Quanto à proibição do glifosato, o ministro da Agricultura remete a decisão para a União Europeia. A decisão deverá ser tomada no Comité de Peritos de 18 de maio. Caso não haja maioria qualificada, o assunto regressa à Comissão Europeia. O Parlamento Europeu deu já parecer favorável a que a venda do glifosato seja autorizada por mais sete anos.
“Não será o que Bruxelas decidir. Será o que as instituições europeias, das quais Portugal faz parte, decidirem”, garante. Sobre a posição que os peritos portugueses vão defender, Capoulas Santos afirma que, quando chegou ao Ministério da Agricultura, tinha sido dada uma “orientação” que era “favorável à manutenção do glifosato”.
“Entendi, por uma questão de prudência, alterar esta posição, recomendando aos técnicos portugueses que têm participado nos comités uma posição de abstenção”, afirmou. Capoulas Santos garante que o assunto preocupa o Executivo e “exige muita ponderação”.
“A posição que Portugal tomará será seguramente, primeiro que tudo, uma posição que defenda os cidadãos e a saúde pública”, garante o ministro da Agricultura.
Portugueses contaminados
As declarações do ministro da Agricultura surgem depois de a RTP ter noticiado na sexta-feira que há portugueses infetados com glifosato, uma substância perigosa e potencialmente cancerígena. Uma realidade que foi aprofundada no programa Linha da Frente de sábado.
A Plataforma Transgénicos Fora promoveu análises à urina de 26 portugueses. Em todas elas se verificou a presença de glifosato e em valores superiores aos verificados nos restantes países europeus. Por exemplo, os portugueses analisados têm 20 vezes mais glifosato do que os suíços ou alemães.
Reportagem de Ana Cardoso Fonseca, Marta Jorge, Paulo Jorge, Manuel Salselas - RTP
O Diário de Notícias revela este domingo que há pelo menos 89 câmaras municipais que utilizam glifosato, fazendo-o para matar ervas em jardins, passeios, estradas e cemitérios.
Glifosato: potencialmente cancerígeno
Este é o herbicida mais utilizado em Portugal. O produto foi inventado nos anos 70, pela multinacional americana Monsanto. Hoje em dia, só em Portugal, há mais de 20 marcas que comercializam glifosato.
É um herbicida total, não seletivo - o que quer dizer que mata qualquer tipo de planta. O glifosato pode entrar no corpo humano através da ingestão de água e alimentos ou da inalação.
Reportagem de Marta Jorge, Paulo Jorge, Manuel Salselas, João Caldeirinha
Em Portugal, a presença deste herbicida nos alimentos não é testada. Este facto é admitido pelo próprio Governo, que esclarece em comunicado que o glifosato “nunca fez parte da lista de substâncias a pesquisar”. A realidade muda agora em 2016 mas será apenas pesquisado em sementes de centeio.
O alerta sobre os perigos do herbicida soou a mais de mil de quilómetros de Portugal, em França. A Organização Mundial de Saúde, através da Agência Internacional de Investigação para o Cancro, estudou o glifosato durante um ano.
Dezassete investigadores tomaram uma decisão unânime: classificar o glifosato como potencialmente cancerígeno. O Comité de Peritos da União Europeia reunirá a 18 de maio para decidir se o glifosato pode continuar a ser utilizado a nível europeu.