Gonçalo Amaral deixa a PJ para ter “plenitude de liberdade de expressão”

por Carlos Santos Neves, RTP
"Neste momento, para me poder defender, tenho de readquirir a minha liberdade de expressão", afirma Gonçalo Amaral Luís Forra, Lusa

Gonçalo Amaral cumpriu esta segunda-feira o último dia de trabalho na Polícia Judiciária. O ex-coordenador para o caso Madeleine McCann decidiu aposentar-se por sentir que a direcção nacional da Judiciária nunca o defendeu das acusações de que foi alvo por parte da imprensa britânica. Deixa a Judiciária ao cabo de 26 anos de carreira para poder falar em nome do que considera ser a verdade sobre o desaparecimento da criança britânica.

Às 17h30, Gonçalo Amaral despediu-se para sempre da Polícia Judiciária. Foi aposentado no espaço de três meses. O pedido de aposentação foi feito quando Alípio Ribeiro era ainda o director nacional da Polícia Judiciária. O deferimento foi rápido.

No currículo do ex-coordenador do Departamento de Investigação Criminal de Portimão ganham relevo casos mediatizados como o do veleiro Intermezzo, ou do desaparecimento de Joana. Mais recentemente, o nome de Gonçalo Amaral ficou ligado ao desaparecimento de Madeleine McCann. Foi este o caso que acabou por ditar o termo da sua carreira enquanto polícia.

Em entrevista à Agência Lusa, Gonçalo Amaral afirmou que deixa a Polícia Judiciária para poder “ter plenitude de liberdade de expressão”.

“Eu saio porque entendo que a única forma de vir a adquirir a plenitude da minha liberdade de expressão é sair da polícia”, disse. “Porque eu neste momento, para me poder defender, tenho de readquirir a minha liberdade de expressão”.

A transferência

Acusado pela imprensa britânica de incompetência, Gonçalo Amaral viu a direcção nacional da Polícia Judiciária guardar silêncio.

Em Outubro de 2007, tinha lugar a transferência do coordenador de Portimão para Faro e o subsequente afastamento do caso Madeleine. Na base da decisão estiveram declarações proferidas por Gonçalo Amaral ao Diário de Notícias a insinuar que a polícia britânica estaria a favorecer os pais da criança.

Gonçalo Amaral acusava, então, a polícia inglesa de investigar “unicamente” pistas “trabalhadas” por Gerry e Kate McCann.

“Fiz cessar a comissão de serviço de Gonçalo Amaral em Portimão. As razões pelas quais dei esse despacho parecem-me óbvias”, explicava na altura o então director nacional da Polícia Judiciária, Alípio Ribeiro.

Gonçalo Amaral encarou esta decisão como um rude golpe, que o levou a decidir-se pela aposentação aos 48 anos de idade. Para recuperar a “liberdade de expressão” e poder defender-se.

Já este Verão deverá publicar um livro para contar a história da investigação no caso Madeleine McCann, caso seja levantado o segredo de justiça no processo.

“Tudo depende de ser ou não levantado o segredo de justiça do caso”, afirmou Gonçalo Amaral à Agência Lusa.

Futuro

“Não é nada do outro mundo reformar-me aos 48 anos”, sublinha o ex-coordenador do Departamento de Investigação Criminal de Portimão. “Comecei a trabalhar aos 14 anos na Função Pública, fiz as contas e dizia aos colegas de curso [de formação da Polícia Judiciária] que me ia reformar mais cedo que eles. Pelas minhas contas estaria reformado da polícia aos 46 anos, mas as regras foram sendo alteradas e isso não veio a acontecer”.

Quanto ao seu futuro imediato, Gonçalo Amaral afirma que “o segredo é a alma do negócio”.

Na entrevista à Agência Lusa, o investigador adiantou que gostaria de realizar um estágio num escritório de advocacia do Algarve: “A minha vida vai passar pelo Algarve. Eu sou algarvio por adopção. Desde 1986 que na prática tenho vivido no Algarve”.

Na véspera do seu último dia na Polícia Judiciária, Gonçalo Amaral participou numa operação em Faro que desembocou na apreensão de perto de 2.500 quilos de haxixe. Na mesma operação – resultado de uma investigação que durava há três meses - foram detidos seis homens e apreendidas duas embarcações desportivas.
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