Funeral de adolescente baleado em Rio de Mouro marcado pelo silêncio e consternação

por RTP
Vão a enterrar jovens assassinados a tiro no domingo em rixa de gangs RTP

Mais de uma centena de jovens acompanharam o funeral de um dos dois adolescentes assassinados domingo em Rio de Mouro, marcado pelo silêncio e consternação

Não estiveram presentes no cortejo fúnebre, nenhum representante quer do poder central quer do local, e a prometida e anunciada presença policial para evitar eventuais confrontos ssumiu uma forma muito discreta, já que não foi visto um único agente fardado.

Francisco Silva, morto aos 18 anos, saiu da igreja do Cacém - onde estavam os dois únicos polícias fardados vistos na cerimónia - às 10h30, partindo para o cemitério local, onde foi sepultado.

À chegada ao cemitério, a mãe do jovem sentiu-se mal e no próprio local teve de receber assistência do Instituto Nacional de Emergência Médica acabando por não acompanhar a cerimónia até ao fim.

O funeral foi marcado pela forte presença de jovens, que se quiseram associar à homenagem ao jovem e à sua maneira, dizerem que estão contra o que se passou. Muitos levavam uma flor branca na mão, outros optaram por envergar uma camisola com a fotografia estampada de Francisco.

Francisco Silva era amigo de Edgar, o alegado autor dos disparos, que terá morto o jovem hoje sepultado por acidente, quando fugia após ter disparado sobre a outra vítima.

No final das exéquias foram vários os jovens que se abraçaram a chorar sendo a consternação bem visível nos seus rostos.

Às 14:00 realiza-se o funeral do outro jovem assassinado em Rio de Mouro, que terminará no cemitério desta localidade.

Mortos em rixa de gangs

No domingo passado, pelas 21:30, os dois jovens em causa foram baleados por outro jovem de 16 anos em Rio de Mouro. De acordo com as declarações das forças policiais que na altura tomaram conta da ocorrência terá sido uma rixa entre grupos de bairros diferentes. Dos tiros resultou a morte para ambos os jovens.

Este acontecimento levou o Ministério Público a determinar a adopção de "medidas de prevenção tendentes a evitar novos confrontos".

"A constatação de que este incidente pode não ter sido esporádico e que poderá ter novos desenvolvimentos, com aproveitamento do funeral das vítimas ou da quadra carnavalesca (...), levou a que o Ministério Público tivesse tomado a iniciativa de articular com os competentes órgãos de polícia criminal a adopção de medidas de prevenção tendentes a evitar novos confrontos", pode ler-se na nota divulgada pelo gabinete de imprensa da Procuradoria-Geral da República.

A nota refere ainda que se tratam de "jovens com problemas de inserção escolar, referenciados por um conduta grupal agressiva, envolvendo violência contra outros jovens, em meios escolar e fora dele", características que terão justificado as medidas adoptadas pelo Ministério Público.

Simultaneamente será desenvolvido "um plano de acção envolvendo outras entidades com responsabilidades na área da prevenção, nomeadamente a Direcção-Geral da Reinserção Social, as autarquias e as estruturas comunitárias"

Decorre neste momento o inquérito ao duplo homicídio e o presumível homicida, um jovem, encontra-se em prisão preventiva.

População teme que 40 novos polícias sejam escassos

Entram hoje em funções na esquadra da PSP de Rio de Mouro 40 operacionais que vão integrar o quadro daquela esquadra que substituirá as forças da GNR ao abrigo da recentemente completada reorganização das forças policiais.

Os Moradores de Rio de Mouro não ficaram, no entanto, sossegados com a reestruturação.

Preocupados com a segurança e sendo ainda muito recente o duplo homicídio dos dois jovens, os habitantes desta vila temes que 40 efectivos policiais não cheguem para controlar a criminalidade e trazer-lhes a segurança que acham que está em risco.

Com a reestruturação das forças policiais que teve o seu final na passada sexta-feira, deixaram a freguesia de Sintra 30 elementos da GNR que até agora asseguravam as missões policiais e entram 40 novos agentes da PSP que substituirão a força militarizada que até agora assegura essa função.

A opinião generalizada da população está bem expressa nas declarações feitas à agência lusa por um morador que afirma que "numa freguesia onde moram 60 mil habitantes é impossível" 40 agentes fazerem uma cobertura territorial adequada.

"Somos 60 mil habitantes e não são 40 ou 50 polícias a patrulhar as ruas que vão conseguir fazer alguma coisa. Deviam vir para aqui bem mais do que esses", concluiu o referido morador.

São vários os moradores que relatam ao jornalista da Lusa situações de insegurança ou assaltos que presenciaram.

"Na semana passada vi um menino de oito anos a comer um bolo e outro que não tinha mais de onze pediu-lho. O mais novo não lho queria dar e o outro ameaçou-o com uma faca. Tudo durante o dia perto da estação", disse Maria da Conceição, de 70 anos.

"Junto à escola já assaltaram o meu irmão umas três vezes. Aparecem em grupos de sete ou oito (jovens) e ameaçam-nos e tiram-lhes as coisas de valor", referiu um jovem de 17 anos.

Um idoso que reside junto à estação "há mais de 30 anos" referiu à Lusa que durante anos costumava andar de comboio mas "hoje em dia" não o faz com medo de ser assaltado.


Inauguração do posto da PSP com presença de Ministro

À cerimónia de abertura da nova esquadra em Rio de Mouro assistiram hoje de manhã, o ministro da Administração Interna, Rui Pereira, o presidente da câmara de Sintra, Fernando Seara, o director nacional da PSP, Orlando Romano, e o presidente da Junta de Freguesia de Rio de Mouro, Filipe Santos.


"A segurança e o acompanhamento das crianças vai ser muito importante, não só pelas forças de segurança pública mas também por todas as instituições que trabalham com a comunidade, como as escolas ou a segurança social", disse aos jornalistas, Filipe Santos.

Para o autarca, Rio de Mouro não é uma freguesia problemática em que não haja segurança, pelo contrário "Rio de Mouro tem o orgulho de ser uma freguesia com segurança, mas tem pontos e focos de insegurança que estão a ser acautelados e resolvidos".

Já o presidente da câmara de Sintra, Fernando Seara, acredita "que a reorganização das forças de segurança era fundamental", pois "as zonas brancas ou as zonas de ninguém eram as coisas mais perturbantes em Sintra nos últimos tempos".

"Desde que cheguei à câmara que entendo que desde Queluz até Algueirão/Mem Martins devia haver uma linha de coerência de forças de segurança. Hoje foi consolidada porque foi institucionalizada a divisão de Sintra da PSP", adiantou aos jornalistas Fernando Seara.

A nova divisão da PSP de Sintra vai contar com 500 elementos efectivos distribuídos "pelas esquadras de acordo com o tamanho e as características das freguesias", de acordo com a comandante Anabela Alferes.

Para a comandante da nova divisão da PSP de Sintra os 40 elementos efectivos destacados para a esquadra de Rio de Mouro "são os possíveis" e serão geridos da forma mais adequada.

"É necessário um policiamento de proximidade e será um dos procedimentos em que eu terei um maior empenho", afirmou.

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