A presidente da Junta de Abiul lamentou as "poucas ajudas" para colmatar os prejuízos dos incêndios que há dois anos destruíram mais de 20% desta freguesia do concelho de Pombal, um dos mais afetados pelos fogos nesse ano.
"Passados dois anos, ainda muito pouco foi feito. As poucas ajudas conseguidas foram da parte quer do Município de Pombal, quer da Junta de Freguesia", afirmou à agência Lusa Sandra Barros, queixando-se da exclusão do concelho nos apoios concedidos pelo Governo.
Pombal foi afetado numa área inferior a 10% do território, pelo que ficou de fora dos apoios, mas a autarca frisou que "ardeu mais de 20% da freguesia", de 54 quilómetros quadrados.
Notando que a medida do anterior executivo "não foi justa", Sandra Barros sublinhou que na freguesia se perdeu "muito a nível mais da agricultura de subsistência", além de terem ardido "algumas empresas também agrícolas".
"E essas pessoas não tiveram apoios e continuam sem apoios, e alguns só eles próprios estão a tentar recuperar algumas coisas", declarou.
Dois anos volvidos, Sandra Barros disse temer novos incêndios numa freguesia com uma "vasta zona florestal".
"Não sei se, neste momento, teremos melhores condições" caso um novo fogo atinja a freguesia, admitiu, defendendo um incremento da fiscalização ao nível da limpeza dos terrenos.
Descrevendo a existência de pequenos aglomerados populacionais onde há "terrenos abandonados", a presidente da Junta de Abiul assinalou que "esses combustíveis [que] estão no meio das povoações não ajudam nada".
"Eu acho que deveria de haver uma maior fiscalização, mais apertada", declarou, reconhecendo, contudo, que "as limpezas também são muito caras".
Para este verão, a autarca apela para que "naqueles dias mais perigosos (...) todos os olhos devem estar atentos a qualquer sinal", para se conseguir de uma forma mais rápida minimizar e controlar potenciais fogos.
Em outubro de 2022, a Câmara de Pombal anunciou que os danos em Abiul ascenderam "a mais de cinco milhões de euros" distribuídos por intervenções de estabilização de emergência pós-incêndio (356.540 euros), floresta (3.780.000 euros), estruturas agrícolas (1.853.795 euros) e habitação (116.500 euros).
Na ocasião, a autarquia presidida por Pedro Pimpão considerou imperioso a inclusão da freguesia de Abiul nas medidas de apoio em consequência dos danos causados pelos incêndios florestais e manifestou "total discordância perante o tratamento desigual".
Agora, a Câmara esclareceu que celebrou um contrato-programa com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e Fundo Florestal, para "intervenção em 300 hectares de faixas nos 25 metros paralelamente à rede viária florestal afetada e nos 50 metros em torno de edifícios", substituição de sinalização danificada de caça, recuperação da rede viária florestal e instalação de abrigos e comedouros para a fauna selvagem.
O contrato-programa já teve uma adenda, tendo sido transferido para o município "metade da verba aprovada, mais concretamente 155.132,96 euros", referindo que está concluído o caderno de encargos para lançar o procedimento de contratação.
Uma das vítimas deste incêndio foi a educadora de infância Sabina Lopes, de 40 anos, que sofreu queimaduras de 2.º e 3.º graus em 70% do corpo, tendo sido afetado sobretudo o seu lado esquerdo.
Foi apanhada pelo "calor" do incêndio em Vale Perneto, a localidade de Abiul onde moram os pais e onde estavam em 12 de julho de 2022 as suas duas filhas menores.
Sabina Lopes está de baixa há praticamente dois anos, aguardando a atribuição, desde há 22 meses, do atestado médico de incapacidade multiúso, que contempla "benefícios sociais, fiscais e económicos aos seus detentores, consoante o grau de incapacidade".
Sabina Lopes elenca os apoios que tem recebido, da família e amigos, da junta e de associações, entre outros, considerando que deveria haver do Estado maior rapidez em processos como o seu e mesmo "um sistema mais direcionado de apoio" a situações com as consequências que teve, que exigem mais despesas do que aquelas que são suportadas por aquele.
Além de Pombal, os concelhos do distrito de Leiria mais afetados por incêndios no verão de 2022 foram Alvaiázere, Ansião e Leiria.
A Lusa questionou também Ansião e Alvaiázere, mas não obteve resposta.