As camisolas do Barcelona e Real Madrid levam vantagem às dos clubes portugueses nas ombreiras das lojas da fortaleza de Valença, um monumento nacional transformado em centro comercial ao ar livre com muita clientela espanhola.
"Há que dançar conforme a música e adaptar a oferta à procura", diz a dona de um estabelecimento comercial onde as camisolas dos jogadores catalães Eto`o, Messi, Ronaldinho e Deco, penduradas no exetrior, se sobrepõem à representação nacional, que se fica por Cristiano Ronaldo e Nuno Gomes, com as cores da selecção.
Mais à frente, noutra loja, estão em destaque as camisolas de Raul e de Van Nistelrooy, rivalizando, mais uma vez, com o jogador português do Manchester United.
Classificada como monumento nacional desde 1910, a fortaleza de Valença acolhe, no interior dos seus cinco quilómetros de perímetro, 170 estabelecimentos comerciais, na sua maioria do ramo dos têxteis-lar, embora a oferta seja cada vez mais diversificada.
"Costumo dizer que temos aqui o maior centro comercial ao ar livre da Europa", refere Joaquim Covas, vereador das Actividades Económicas na Câmara de Valença e presidente da União Empresarial do Vale do Minho.
Covas garante que há alturas do ano em que os espanhóis constituem mais de 80 por cento da clientela daquele "shopping amuralhado", que ali vão procurar sobretudo artigos têxteis para o lar, devido à "fama internacional" que produtos portugueses alcançaram.
"Há lojas das muralhas de Valença com exclusivo de alguns dos melhores produtos que se fabricam nos vales do Ave e do Cávado", garante Joaquim Covas.
"Gosto do ambiente e do tipicismo do comércio num lugar com história, além de aproveitar a excelente gastronomia, sobretudo o cabrito", diz Eva Mendez, moradora em Vigo e cliente assídua deste "centro comercial" de Valença, enquanto "apalpa" alguns artigos para o lar pendurados à porta de um dos estabelecimentos comerciais.
Este é, de facto, um dos aspectos que marca a diferença, com cada loja expondo os seus artigos no exterior, pendurados nas ombreiras ou padieiras, tal como se de uma feira se tratasse.
O vereador responsável garante que esta prática é para continuar, mesmo depois das profundas obras de recuperação da fortaleza, que estão em curso e se deverão prolongar até meados de 2009, num investimento que deverá ascender a 10 milhões de euros.
Estas obras foram "precipitadas" por um alerta da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, em Julho de 2003, dando conta de que a fortaleza de Valença corria o risco de derrocada devido à "deficiente" drenagem de águas pluviais e à "decrepitude" das redes de infra- estruturas subterrâneas.
As obras começaram na zona da Coroada, onde o risco de derrocada era maior, incidindo, nesta segunda fase, na zona onde estão instalados os Paços do Concelho, para se estenderem depois, na terceira e última fase, à pousada.
Toda a área de superfície será igualmente reabilitada, estando prevista a construção de dois parques de estacionamento, com capacidade para cerca de 250 lugares.
O projecto é do arquitecto Souto Moura, que comparou esta intervenção a uma prótese dentária, já que, como disse, "no final das obras, Valença não será a mesma, mas manterá a mesma cara".
Entretanto, a Câmara pretende construir ainda um parque de estacionamento subterrâneo com capacidade para mais de meio milhar de viaturas à entrada da fortaleza, para aliviar o trânsito naquele monumento nacional.
Segundo José Luís Serra, presidente da Câmara, o parque afigura-se "verdadeiramente indispensável para acabar com o caos na circulação no interior da fortaleza, uma situação que chega a pôr em causa a própria segurança das pessoas que por ali passam".
"Há dias em que a situação fica caótica e não podemos continuar a ter esta confusão no interior do `ex- libris` de Valença", acrescenta o autarca.
A ideia é levar os automobilistas a deixar as suas viaturas no futuro parque, dispondo de um elevador para acederem à fortaleza.
Quem nunca contribui para o congestionamento do trânsito no perímetro amuralhado é a "tia Albertina", que será, porventura, a mais típica e acarinhada "comerciante" ali instalada.
Na sua pequena banca, numa das entradas das muralhas, "tia Albertina" vende rosquilhas, rebuçados e caramelos, adoçando assim a boca aos visitantes e deixando- os com vontade de lá voltar.