Viana do Castelo, 23 Jan (Lusa) - A família de "ocupas" que recebeu ordem de despejo do antigo bairro da CP em Viana do Castelo começa quinta-feira as mudanças para a nova casa, arrendada no centro da cidade com a ajuda da Segurança Social.
"A Refer [actual proprietária do bairro] deu-nos até segunda-feira para sairmos, depois de, com a ajuda da Segurança Social, termos conseguido arranjar uma casa no centro da cidade. Amanhã começamos as mudanças", disse hoje, à Lusa, Daniel Parreira, chefe daquela família.
A casa foi arrendada por 200 euros, assumindo a Segurança Social o pagamento da primeira renda e ainda o mês de caução.
Daniel Parreira, a mulher e dois filhos menores viviam há cerca de sete anos numa das 12 casas do antigo bairro da CP, que ocuparam clandestinamente, "sem pedir licença a ninguém".
Em Dezembro último, a Refer selou nove casas, tapando portas e janelas com tijolos e cimento, deixando apenas três abertas: a ocupada pela família de Daniel Parreira, uma outra onde ainda mora um trabalhador da CP e uma terceira que serve de sede a uma associação de dadores de sangue.
Fonte da Refer explicou à Lusa que esta selagem visa minimizar os efeitos da utilização das casas por indigentes e prevenir actos de vandalismo.
A mesma fonte acrescentou que o projecto da Refer para aquela área "encontra-se ainda em fase de estudo".
Relativamente às duas casas legalmente ocupadas, a Refer garantiu que os "inquilinos" continuarão a poder usá-las "até serem encontradas soluções alternativas".
Quanto à família de "ocupas", a Refer tinha-lhe dado ordem para sair até à passada segunda-feira, um prazo entretanto prorrogado por mais uma semana, face à dificuldade que houve em arranjar casa alternativa.
"Felizmente, conseguimos encontrar alguém que não nos exige fiador, se não ainda agora estaríamos sem solução", referiu Daniel Parreira.
Em Abril de 2006, o caso daquele antigo bairro foi levado à Assembleia Municipal de Viana do Castelo pelo líder da bancada socialista, José Carlos Resende, que fez aprovar uma moção apelando à Refer para acabar rapidamente com aquele "foco de insalubridade" na cidade.
Na moção, aprovada por esmagadora maioria, José Carlos Resende sublinhava que o bairro ocupa um terreno de 5000 metros quadrados e está situado "numa das melhores zonas da cidade".
Acrescentava que as casas eram, "quase todas, local para acoitar marginais" e que os terrenos se transformaram em depósito de lixo.
"A Refer todos os anos anuncia prejuízos mas não constrói, não arrenda e não vende, tendo um comportamento feudal de quem mantém a quinta abandonada, longe dos olhos da capital e sem necessidade de prestar contas, porque os impostos tudo pagam", lia-se ainda na moção.
VCP.