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Exaustão emocional atinge mais de 60 por cento dos professores

por RTP
Os resultados vão ser apresentados esta sexta-feira no Encontro Internacional sobre o Desgaste dos Professores, promovido pela Fenprof, que vai decorrer no Fórum Lisboa Rodrigo Antunes - Lusa

Mais de 60 por cento dos professores portugueses sofrem de exaustão emocional provocada por causas como a excessiva burocracia. Os dados constam de um estudo feito pela Universidade Nova de Lisboa, a pedido pela Fenprof, e foi feito com base nas respostas de mais de 15 mil docentes.

Raquel Varela, que liderou a equipa da Universidade Nova de Lisboa, classifica os dados como “absolutamente catastróficos”.

Através de um trabalho de parceria, as estruturas sindicais distribuíram pelas escolas milhares de inquéritos com mais de cem perguntas sobre burnout, desgaste e stress sócio ocupacional, cansaço e mal estar, mas também sobre dados sociodemográficos, explicou a investigadora à Lusa.

“Mais de 65 mil professores revelaram níveis preocupantes de exaustão emocional, uma das três características de burnout”, revelou.

Segundo Raquel Varela, “a exaustão emocional apresenta valores elevadíssimos entre a classe dos professores”, atingido mais de 60 por cento dos 15 mil inqueridos.

O estudo mostra ainda que os professores mais velhos são os que mais sofrem de exaustão, com uma forte incidência nos profissionais com mais de 55 anos. O burnout é causado por uma exaustão ou stress profissional, despersonalização e diminuição da realização profissional.

“Os professores com burnout têm a sensação de não conseguirem acompanhar os alunos individualmente, nem nas múltiplas tarefas que lhes são exigidas”, frisou a investigadora.

A coordenadora do estudo considera ainda que “particularmente todos os professores estão cansados. Há mais professores cansados do que professores em burnout, devido à extensão do horário de trabalho e a intensificação das tarefas dentro do horário de trabalho”.

Os mais de 15 mil professores que responderam ao inquérito enviado pela Federação Nacional de Professores (Fenprof), foram colocados em cinco patamares, consoante o nível de exaustão demonstrado. O estudo é uma parceria entre a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova e que conta com a participação de académicos de várias universidades, entre elas do Instituto Superior Técnico e de instituições brasileiras.

Os dados revelam que 47,8 por cento revela sinais no mínimo preocupantes de exaustão emocional- 20,6 por cento apresenta sinais “preocupantes”, 15,6 por cento mostra “sinais críticos” e 11,6 por cento têm “sinais extremos” de esgotamento.

Entre os inquiridos, 25,8 por cento revelam “alguns sinais” de exaustão emocional” e apenas 23,6 por cento não declara qualquer sintoma.

Os professores mais exaustos são os que mais defendem a reforma antecipada.

Apesar de o estudo ainda não estar terminado, Raquel Varela frisa que com os dados apurados já é “possível confirmar uma correlação direta entre os índices de adoecimento no local de trabalho com a gestão no local de trabalho, a burocracia e a indisciplina dos alunos”.

Quase metade dos docentes (42,5 por cento) têm um baixo índice de realização, o que leva a coordenadora do estudo a concluir que este “é um setor com níveis preocupantes de realização”. O estudo sobre burnout ou desgaste investiga as condições e vida e de trabalho dos professores em todos os graus de ensino incluindo nos setores públicos e privado.

Para a investigadora, “o confronto entre as expetativas e a realidade profissional do dia-a-dia é um dos fatores para os mais baixos níveis de realização profissional dos professores que se veem confrontados com uma intensa falta de autonomia, pouca influência nos currículos e na gestão da escola”.

“Um trabalho muito vigiado, muito repetitivo e onde os professores sentem que não conseguem dar resposta às necessidades dos alunos e da sociedade”, são outros dos problemas identificados pelo estudo.
Os resultados vão ser apresentados esta sexta-feira no Encontro Internacional sobre o Desgaste dos Professores, promovido pela Fenprof, que vai decorrer no Fórum Lisboa.
Os índices de despersonalização são relativamente baixos. Para Raquel Varela, a despersonalização verifica-se quando o “professor deixa de ver os alunos como indivíduos, mas sim como uma linha de montagem, passando a existir um afastamento emocional”.

No entanto, o estudo revela que “para a maioria dos professores, os alunos continuam a ser importantes. Apesar do elevado grau de exaustão emocional, os professores gostam dos seus alunos”.

Raquel Varela alertou ainda “para os níveis preocupantes de falta de reconhecimento social e de cansaço dos professores”.

O estudo revela também “uma forte dependência entre o descontentamento face aos salários e a desmotivação no local de trabalho”.

“O Ministério da Educação vai ter de agir em relação a isto. Não é possível ter uma qualidade de ensino numa situação como esta”, afirmou Raquel Varela ao jornal Público.

c/ Lusa
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