Já lá vão 500 inspeções feitas este ano pela Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT). Num mercado concorrencial onde o que importa é o preço, o Estado está a contratar empresas de segurança privadas que oferecem serviços abaixo do preço de custo. ACT considera que o Estado devia dar o exemplo.
No entanto, a maior frustração destas ações, segundo o presidente da Autoridade para as Condições de Trabalho, reside no fato de as empresas contratantes, apesar de serem informadas da situação em que se encontra o trabalhador, nada fazerem para corrigir o problema. Ou seja, a empresa apesar de infratora, continua a prestar os seus serviços.
Por isso, Pimenta Braz, presidente da ACT, em declarações ao site da RTP, defende não a responsabilidade solidária, como pretendem as empresas de segurança privada mas sim, a "perda do local de trabalho". Ou seja, como pena acessória, a empresa de segurança que apresentasse trabalho não declarado deveria ficar impedida de continuar a exercer funções naquele local, uma "espécie de efeito indireto".
Após levantar o auto, a ACT comunica à empresa contratante que está a trabalhar com um grupo onde foi detetado trabalho não declarado mas isso não garante que a empresa não continue ali a trabalhar. E na maior parte dos casos, confessa o presidente da ACT, é isso que acontece.
O Estado está entre os que sustentam esta situação. A denúncia é feita ao site da RTP pelo presidente da ACT. Tal como o resto do mercado, também a Administração direta e indireta procura o preço mais baixo quando contrata serviços de segurança e muitas empresas já referenciadas no mercado, sancionadas por terem trabalho não declarado, continuam a prestar serviços ao Estado.
Por isso, Pimenta Braz recomenda: "O Estado, nas suas contratações de vigilância privada, devia ter mais cautela na forma como abre os concursos". O presidente da ACT considera que se o Estado alterasse os critérios do concurso e não olhasse só ao preço estaria a "dar um sinal forte ao setor".
O problema, segundo Rogério Alves, presidente da Associação de Empresas de Segurança Privada, é que o Estado também "tem de prestar contas" se não escolher o mais barato.
A outra frustração, ou "dificuldade objetiva" como o presidente do ACT prefere chamar, resulta do fato das empresas com trabalho não declarado quando são detetadas fecharem portas, não permitindo que sejam notificadas, para voltarem a abrir noutro local e com outro nome, às vezes mesmo ao lado!
Suspensão do alvará
A existência de trabalho não declarado não é fundamento para a suspensão do alvará de uma empresa. Essa suspensão só se verifica se os requisitos necessários ao exercício da atividade de segurança privada deixaram de ser cumpridos (insuficiência de meios materiais e humanos, inexistência de instalações operacionais ou adequadas, caução a favor do Estado, seguro responsabilidade civil, furto e roubo, entre outros).
Pergunta-se: Será então que se justifica aumentar o grau de exigência em relação aos requisitos definidos pela lei? Justifica-se que uma empresa arguida num processo, como é o caso da SPDE (ligada à operação Fenix) não tenha o alvará suspenso e possa continuar a trabalhar?
Não se querendo pronunciar sobre o caso em concreto, Isabel Oneto, secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna lembrou ao site da RTP que a decisão de suspender o alvará é judicial. Adianta que qualquer alteração à lei obriga a que se "definam muito bem os critérios porque é um setor fortemente concorrencial". No seu entender, determinar de forma aberta sem verificar cada uma das situações em concreto "levaria a situações de injustiça". "Temos de ser cautelosos", refere, até porque muitas vezes a responsabilidade não é das empresas mas de quem se aproveita delas.
Isabel Oneto defende ainda que é preciso salvaguardar da má concorrência "quem funciona bem no mercado e presta um bom serviço", porque "o justo não pode pagar pelo pecador".
A solução será encontrada em conjunto com o setor mas sobre esta matéria o presidente da AESP já disse ao site da RTP que a associação é defensora de que os requisitos para a constituição e funcionamento sejam apertados.
Seja como for, a PSP continua a fazer essa fiscalização muitas vezes acompanhada pela ACT e há, segundo o Governo e a associação que representa as empresas, alvarás que tem sido suspensos.
Grandes empresas de segurança ponderam sair de Portugal
Toda esta situação parece um círculo vicioso.
Toda esta situação parece um círculo vicioso.
Má concorrência leva a perda de valor. Menos valor significa pagar mal. Pagar mal leva a menos qualificação.
Rogério Alves, o presidente da Associação de Empresas de Segurança Privada justifica os salários baixos de um vigilante (em média 600 a 700 euros/mensais) com a perda de valor do setor e admite que nestas circunstâncias a mão de obra é menos qualificada.
Neste contexto, Rogério Alves revela que há empresas que ponderam mesmo sair de Portugal porque não é sustentável permanecer num setor onde só se consegue vender serviços se forem mais baratos do que aquilo que custam.
O antídoto, segundo Rogério Alves, é uma inspeção muito eficiente.
Atualmente há quase 200 empresas a operar no mercado da segurança privada e 37 mil vigilantes, numero que tem vindo a diminuir.