Entrevista à RTP. Magistrado António Cluny defende reflexão interna no Ministério Público

por RTP

Foto: Pedro A. Pina - RTP

António Cluny, procurador-geral adjunto jubilado e antigo membro nacional da Eurojust, disse que as falhas detetadas na investigação Operação Influencer são comuns e "não parecem relevantes", embora defenda a necessidade de uma reformulação nos métodos de trabalho por parte do Ministério Público (MP) que se traduza numa aprendizagem coletiva.

"Eu penso que uma reflexão interna é sempre bem-vinda e já devia estar instituída como método de trabalho há muito tempo, até porque os processos são cada vez mais complexos, cada vez mais relevantes do ponto de vista social e político, como este, e portanto uma reflexão interna que se traduza depois numa aprendizagem coletiva é obviamente necessária", declarou o magistrado António Cluny, em entrevista à RTP3 esta segunda-feira à noite.

O antigo presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público considerou “útil" a reflexão interna tanto para os magistrados como para a própria instituição e defendeu que deveria ser feita tanto nos casos de sucesso como de insucesso, uma vez que “há casos que nos podem ensinar como foi feito e se obtiveram bons resultados e outros porque é que não se obtiveram, muitas vezes as causas não são as mesmas, muitas vezes as respostas terão que ser diferentes”.

António Cluny reconheceu as falhas cometidas pelo Ministério Público durante a investigação da Operação Influencer e admitiu que estas podem comprometer a imagem da instituição judiciária. Apesar de desconsiderar a sua relevância no sucesso da investigação afirmou que é necessário repensar a maneira como a transcrição das escutas é feita.

O magistrado preferiu não se pronunciar sobre o silêncio da procuradora-geral da República, por se tratar de uma “superior hierárquica” mas afirmou que não havia “nada a criticar” relativamente a ida de Lucília Gago a Belém para prestar mais esclarecimentos sobre a investigação no dia da demissão do primeiro-ministro, com base na “interdependência (…) e solidariedade dos poderes” que considerou exigir um assunto desta natureza.

“Acho perfeitamente normal (...) a senhora procuradora-geral da República tenha tido necessidade ou vontade de comunicar ao senhor presidente da República e eventualmente também ao senhor primeiro-ministro (...) exatamente aquilo se estava a passar porque isto tem reflexos bastante graves", disse Cluny.



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