Entrevista a Ana Jorge. Provedora da Santa Casa admite "risco" de 20 milhões em prejuízos

por RTP
Ana Jorge revelou que foi possível, para o orçamento de 2024, evitar a alienação de bens da Santa Casa e a retração nos apoios sociais Tiago Petinga - Lusa

A nova equipa de administração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem estado a tentar equilibrar a situação financeira que encontrou e que pode implicar cerca de 20 milhões de euros em prejuízos provocados pela “operação de internacionalização” dos jogos, revelou na última noite, em entrevista à RTP3, a provedora Ana Jorge.

No 360, Ana Jorge reconheceu que a Santa Casa vive uma situação financeira de “alguma dificuldade”, mas escusou-se a fornecer números concretos enquanto decorre uma auditoria forense e financeira à internacionalização, a qual deverá estar concluída até outubro.

“O risco pode ser”, admite, um prejuízo de até 20 milhões de euros. “Mas estamos neste momento em negociações e aguardamos os resultados da auditoria que está a decorrer também no Brasil”, em busca de soluções para que "o risco não seja dessa natureza", afirmou a administradora.Ana Jorge revelou que foi possível, para o orçamento de 2024, evitar a alienação de bens da Santa Casa e a retração nos apoios sociais prestados de acordo com a missão da instituição.

Estão a ser feitos todos os esforços, face à situação financeira, “para manter a atividade social que é fundamental, quer nas crianças, quer nos idosos, quer transversal à população mais vulnerável”, como aos sem-abrigo, creches e jardins de infância, garantiu.

A provedora sabia que ia ser necessário encontrar formas de aumentar as receitas e diminuir gastos, mas admitiu alguma surpresa com a situação que encontrou.
Entrevista na íntegra à provedora da Santa Casa da Misericórdia, Ana Jorge

Ana Jorge frisou que esta se pode ter devido ao “aumento de atividade da Santa Casa” que se alargou para além do âmbito tradicional da cidade de Lisboa e que é financiada “por 26 por cento das verbas globais dos jogos sociais”.

A administração da Santa Casa pretende agora, exemplificou, renegociar protocolos e contratos de prestação de serviços, assim como os acordos de empresa estabelecidos com as duas centrais sindicais, de forma a garantir melhores condições e melhor gestão da instituição.
Apoios desportivos

Já o corte aos apoios desportivos, comunicado há uma semana às federações e que ameaçava a realização de eventos e a deslocação de atletas, terá sido afastado. Ana Jorge recusou a ideia de ter “voltado atrás”.

“O que ficou combinado na reunião que houve entre a Santa Casa e o Governo foi que as federações que se manifestaram teriam os seus apoios garantidos”, devido à “proximidade dos Jogos Olímpicos”, explicou.

A provedora referiu que, nessa reunião, ficou acordado que “seriam encontradas outras soluções para esses apoios além da Santa Casa”, as quais estarão a ser negociadas.

Já a Santa Casa mantém os apoios e financiamentos desportivos “que vêm dos jogos sociais” definidos por lei. “Nada disso foi alterado”, frisou, revelando que estas verbas ascendem a 82 milhões de euros por ano.

Os valores em causa são “variáveis de federação para federação”, indicou Ana Jorge, podendo oscilar “dos 20 mil aos 500 mil euros”. A provedora disse ainda que estão a ser desenvolvidos “critérios” mais “explícitos” para a atribuição dos apoios, que virão a ser públicos.
“Missão é apoio à área social”
Ana Jorge frisou, todavia, que não foram só os apoios ao desporto que foram postos em causa, mas também os de outras instituições e iniciativas, como festivais. Já outras são intocáveis.

“Há áreas no desporto em que o apoio faz parte da missão da Santa Casa, que tem a ver com a área da deficiência”, explicou a responsável, que “não serão postas em causa, em risco”, pelo apoio à área do desporto em geral.

“A missão da Santa Casa é o apoio à área social, à área da educação”, lembrou Ana Jorge, referindo que atualmente “não é possível conciliar os dois lados da forma como tem sido feita”.
PUB