No final da audição no Campus de Justiça, em Lisboa, o ex-primeiro-ministro lançou duros ataques contra o Ministério Público e o jornalismo. Em declarações aos jornalistas, negou ainda qualquer proximidade com o antigo banqueiro e garantiu desconhecer quaisquer pagamentos a Manuel Pinho.
"Toda a gente sabe que o dr. Ricardo Salgado tinha amigos na direita, não na esquerda", assinalou, lembrando a proximidade do antigo banqueiro com figuras como Cavaco Silva, Durão Barroso, Passos Coelho e Marcelo Rebelo de Sousa.
O antigo primeiro-ministro acrescentou que nunca teve o número de telefone de Salgado e nunca esteve no seu gabinete, à exceção de uma reunião no Ministério do Ambiente três anos antes de ser chefe de Governo.
Criticou ainda o papel do jornalismo neste caso. "Talvez vocês possam refletir convosco próprios e pensar como é que o jornalismo português permitiu que esta revisão histórica tão fraudulenta pudesse ter tido êxito durante estes dez anos. Grande parte do que diz o Ministério Público é ajudado pelo jornalismo", considerou.
José Sócrates considerou que os jornalistas portugueses "ouvem só o Ministério Público". Salienta ainda que eventuais críticas à Procuradoria-Geral da República ou que visem "qualquer instituição em democracia" são legítimas.
"As instituições devem ver essas críticas como um convite à sua melhoria, não como uma crítica que pretende destruir seja quem for”, completou.
"Mentira do Ministério Público é propalada há 12 anos"
Os três antigos chefes do Governo são testemunhas indicadas por Manuel Pinho. O antigo ministro da Economia está a ser julgado por suspeitas de crimes de corrupção e branqueamento de capitais.
Questionado pelos jornalistas sobre se sabia dos pagamentos efetuados a Manuel Pinho, José Sócrates reagiu com indignação. "Essa pergunta é insultuosa. Claro que não sabia, claro que não sabia. Está a fazer essa pergunta como uma provocação”, atestou.
O ex-primeiro-ministro assinalou ainda que os pagamentos em causa correspondem a um contrato "decidido e assinado antes de Manuel Pinho ter ido para o Governo". Afirmou também ter a "convicção" de que o ex-ministro da Economia não recebeu dinheiro de forma indevida.
Negou também que o Governo tenha prestado qualquer favorecimento indevido ao grupo BES e considerou que se trata de uma "mentira do Ministério Público" que é "propalada há 12 anos".
O Ministério Público (MP), sublinha, "diz que houve um favorecimento ilegal à EDP e agora estão num tribunal 12 anos depois com tudo menos a EDP. Este processo transformou-se num processo sem EDP", criticou.
O Ministério Público (MP), sublinha, "diz que houve um favorecimento ilegal à EDP e agora estão num tribunal 12 anos depois com tudo menos a EDP. Este processo transformou-se num processo sem EDP", criticou.
"É absolutamente escandaloso que o Ministério Público considere, ao fim de 12 anos, que continua a investigar. Ao fim de 12 anos o Ministério Público não tem esse direito, com esse tempo o Ministério Público transforma a presunção de inocência numa presunção pública de culpabilidade".
"O MP tem um prazo para acabar o inquérito, não pode demorar 12 anos. Ao fim de 12 anos não arranjaram nada contra o Governo, não arranjaram porque é falso. O Governo nunca beneficiou a EDP", argumentou ainda.
"O MP tem um prazo para acabar o inquérito, não pode demorar 12 anos. Ao fim de 12 anos não arranjaram nada contra o Governo, não arranjaram porque é falso. O Governo nunca beneficiou a EDP", argumentou ainda.
José Sócrates concluiu a declaração considerando que essa conclusão é "fácil" de retirar com a leitura da "investigação aprofundada da Comissão Europeia".
Algo que a comunicação social não faz, diz o ex-primeiro-ministro. "Só leem aquilo que o MP vos diz para ler. Acho que é pouco, deviam ter uma leitura mais crítica daquilo que o MP diz", apontou.