Edna Correia e Carina Cunha distinguidas com Medalha de Honra para Mulheres na Ciência

por Nuno Patrício - RTP
Da esquerda para a direita, as cientistas Edna Correia e Carina Soares Cunha.

A investigadora Edna Correia, do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), Pólo da Ciências da Universidade de Lisboa, e Carina Cunha, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS), da Universidade do Minho, foram distinguidas na 18ª edição das Medalhas de Honra L'Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência.

As cientistas vão receber, cada uma, prémios no valor de 15 mil euros, que servirão para aplicar nos estudos em que estão atualmente envolvidas.

Além destas duas investigadoras, foram galardoadas este ano Sandra Tavares, da Universidade do Porto, e Sara Carvalhal, Universidade do Algarve.
Arrozais em estudo como campo produtivo e habitat natural
Edna Correia, de 34 anos, tem em mãos uma investigação que se centra principalmente na ecologia trófica de aves, nomeadamente aspetos relacionados com a dieta e características das áreas de alimentação, os seus movimentos e o comportamento durante a migração.

O projeto de Edna Correia tem como principal objetivo compreender até que ponto os arrozais - zonas húmidas artificiais - podem servir de alternativa para as aves que tradicionalmente dependem de zonas húmidas naturais, contribuindo dessa forma para a conservação da espécie em Portugal, onde se coloca a questão: podem os arrozais do Estuário do Tejo fornecer alimento para humanos e simultaneamente ser casa para outras espécies?
A investigadora da ULisboa/CESAM explica que a necessidade deste estudo se prende com a acelerada perda de zonas húmidas a nível mundial, principalmente devido à expansão agrícola.
O arroz é uma das culturas com maior produção a nível mundial, cultivado maioritariamente em zonas húmidas transformadas para o efeito. Este estudo visa conhecer mais aprofundadamente os impactos resultantes nestes campos - fauna versus agricultura.

A intenção da investigadora é fazer uma avaliação do potencial prejuízo causado pelas aves aquáticas na produção de arroz, de forma a contribuir para a criação de diretrizes de coexistência sustentável entre as aves e os produtores de arroz.

“Estou muito contente por ter recebido este prémio. Significa um reconhecimento do trabalho que tenho vindo a fazer, mas principalmente um grande incentivo para continuar. Tem também um papel fundamental em dar visibilidade, não só dentro, mas também fora do meio académico, a cientistas no início de carreira e ao trabalho que estão a desenvolver, que por sua vez é muito importante para garantir novos projetos no futuro”, refere Edna Correia.

Edna Correia é doutorada em Biologia e Ecologia das Alterações Globais pela Ciências ULisboa, tendo concluído o mestrado em Ecologia, Ambiente e Território e a licenciatura em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
Identificar neurónios reativos a recompensas naturais ou drogas
Também a investigadora Carina Cunha, de 32 anos, pertencente ao Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho (UMinho), foi distinguida esta quarta-feira com uma Medalha de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência.

A cientista vai igualmente receber 15 mil euros para dar continuidade ao um projeto que pretende estruturar o mapa do cérebro humano e identificar o grupo de neurónios que são ativados quando somos expostos a recompensas naturais ou a drogas de abuso.
O objectivo é compreender que grupos respondem a uma experiência e a outra e, no futuro, encontrar um caminho para combater a adição.

Carina Cunha explica que o trabalho desenvolvido irá “conseguir perceber de que forma assimilamos emoções relacionadas com estímulos naturais positivos – como comer, beber ou interação social – e emoções relacionadas com exposição a drogas de abuso”, explicando que a abordagem assume especial importância porque, apesar dos circuitos neuronais serem partilhados, “a exposição a drogas de abuso pode envolver ativação de conjuntos neuronais diferentes daqueles que estão envolvidos em resposta a estímulos naturais”.

“Esta medalha representa um marco de alto reconhecimento do mérito da minha carreira científica na área de investigação das neurociências e que muito me honra e orgulha. É um grande incentivo e apoio para impulsionar a minha carreira como cientista e para prosseguir o meu projeto de investigação”, reagiu Carina Cunha.Prémio Mulheres na Ciência
O prémio atribuído a estas duas investigadoras conta com a parceria da Comissão Nacional da UNESCO e Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Visa incentivar investigadoras em Portugal, já doutoradas e até aos 35 anos, a prosseguirem estudos originais e relevantes para a saúde e o ambiente.

A Medalha de Honra L’Oréal Portugal vai na 18ª edição e pretende contribuir para aumentar o número de mulheres cientistas a nível mundial, que continua abaixo dos 30 por cento.

O júri, presidido por Alexandre Quintanilha, avaliou mais de 70 candidaturas, elegendo estas quatro jovens investigadoras.
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