Dia santo, "acidente de calendário" ou "feira do consumo", 25 Dez é assinalado por quase todas as religiões
Susana Venceslau, da Agência Lusa
Lisboa, 20 Dez (Lusa) - Apesar de a 25 de Dezembro se celebrar o nascimento de Jesus Cristo, data marcante para os cristãos, o Natal tornou-se um fenómeno global para outras religiões, que também o celebram em família e com troca de presentes.
Muitas religiões classificam o Natal como um "feriado normal", um "acidente de calendário" ou uma "feira do consumo", mas todas elas acabam por se render ao espírito natalício e celebram a data em família, "à volta da mesa" e com troca de presentes.
Entre os budistas faz toda a diferença terem ou não nascido em países ocidentais, já que no oriente, onde o budismo tem raízes mais fortes, esta data não tem praticamente nenhuma incidência cultural.
"Nos budistas ocidentais é diferente porque a maior parte de nós foi criada numa cultura católica e por conseguinte temos o hábito de festejar o Natal. Claro que não o vemos como uma festa religiosa budista, mas como uma festa de âmbito mais cultural ou familiar", explicou à Lusa Tsering Paldron, uma monja budista portuguesa, que admitiu que quando está em Portugal gosta de juntar alguns amigos, fazer uma refeição e trocar presentes.
Já no que diz respeito ao Hinduísmo, é a própria religião que incentiva, apoia e estabelece o respeito pelo dia em que nasceu Jesus Cristo porque para esta religião "todas as manifestações do sagrado merecem o mesmo respeito e a mesma dignidade", explicou Ashok Hansraj, porta-voz da comunidade Hindu em Lisboa.
Para Ashok Hansraj, no entanto, isso não significa que haja algum tipo de paralelismo entre esta celebração e as comemorações Hindus, porque "cada manifestação é tal e qual como é".
Nesse sentido, no Natal, a mensagem que lhe está subjacente e o espírito que está ligado à época natalícia é vivido com o respeito por mais uma representação divina.
"Temos uma festa no dia 25 de Dezembro, no centro da comunidade para festejar com as crianças, onde há distribuição de prendas e onde é explicado o que é que está ligado a esta época e que deve ser mantido porque este espírito começa numa festa muito análoga à nossa, que é a festa do Divali", explicou Ashok Hansraj.
"Na festa do Divali também há a distribuição de presentes, desejamos as boas festas aos amigos e familiares, em que está ligado também o espírito de fraternidade, de compaixão e misericórdia", acrescentou.
Oriunda do Irão, a fé Baha`i, "a mais recente das grandes religiões mundiais", conta já em Portugal com alguns milhares de seguidores e acredita que Deus, de tempos a tempos, manda um representante seu à Terra "para consolidar e renovar aquilo que o anterior disse".
"Qualquer data importante do calendário de qualquer religião é importante para nós. O Natal é especialmente interessante e importante para todas as comunidades porque atingiu um grau que se desprende até da religião", acrescentou.
"Os Baha`i comemoram o Natal em família e em Portugal, tal como comemoram a data de nascimento de Bahá`u`lláh, aí com um âmbito mais espiritual", explicou Piedade Antunes.
Tal como para os Budistas e para os Hindus, para os seguidores da fé Baha`i comemorar o Natal implica reunir a família, seja os parentes mais próximos, seja a comunidade em si, à volta da mesa e trocar alguns presentes.
Com um ponto de vista oposto a todos os anteriores, os judeus não comemoram o Natal porque não reconhecem Jesus Cristo como filho de Deus, mas há vários elementos do Natal, vários valores que partilham com a religião Católica, entre os quais, a solidariedade e a caridade.
Em declarações à Lusa, o rabino Eliezer Shai, da Sinagoga de Lisboa, considerou o Natal como uma "ocasião para vender mais" e aproveitou para deixar um conselho à Igreja Católica.
"As imagens `mainstream` do Natal, a árvore [de Natal] não fazem parte da tradição cristã propriamente dita e acho que deveria reavaliar-se o valor, a essência do Natal. Está nas mãos da igreja católica fazê-lo. Propagandear mais os valores da solidariedade, da caridade, da fraternidade e dizer ao mundo que não é o marketing nem vender mais, ou prendas e árvores que é o sentido do Natal", apontou.
Sendo um feriado nacional, o dia 25 de Dezembro para os judeus portugueses não é nada mais do que isso, não tem qualquer sentido próprio, no entanto acaba por ser aproveitado para estar com a família.
Entre os muçulmanos, esta é também uma data para a qual olham como um feriado, mas respeitam o facto de ser "uma data marcante para os cristãos", o que os leva, dentro do respeito pela religião católica, a "desejarem um bom natal aos irmãos cristãos".
" [Para] o muçulmano em si, na vida familiar ou vida muçulmana, no dia 25 não se comemora nada em especial. É um feriado, é um dia para estar com a família, mas não há nenhuma oração", adiantou o Sheikh David Munir, responsável pela Mesquita de Lisboa.
No entanto, e contrariamente à visão dos judeus, aos olhos dos muçulmanos Jesus Cristo assume o papel de profeta do Islão. Um mensageiro de Deus, a quem Deus revelou a sua mensagem, e que, por sua vez, transmitiu a mensagem de Deus aos homens.
Na tentativa de perceber como é que as várias comunidades religiosas presentes em Portugal olham para o Natal, é importante também ouvir aqueles para quem o conceito de Deus não tem qualquer significado: os ateus.
Por essência um ateu é alguém que nega a existência de Deus, mas será que consegue ignorar por completo o Natal como uma data da família?
"Não, a data não é completamente indiferente, mas é uma altura do ano que para mim do ponto de vista religioso é tão importante como a passagem de ano", diz Francisco Burnay, que descreve o Natal como "um acidente de calendário".
Ateu desde a adolescência, mas com passado católico, Francisco acaba por se juntar à celebração da família, com quem se junta nos dias 24 e 25 e com quem troca presentes.
Do latim `natalis`, Natal significa nascer, ser posto no mundo. Como adjectivo, significa também o local onde ocorreu o nascimento de alguém ou de alguma coisa.
Como festa religiosa, o Natal, comemorado no dia 25 de Dezembro desde o Século IV pela Igreja ocidental e desde o século V pela Igreja oriental, celebra o nascimento de Jesus e assim é o seu significado nas línguas românicas.
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