Dez pacientes infetados com bactéria multiresistente no Porto

por Graça Andrade Ramos - RTP
O Centro Hospitalar Conde Ferreira foi construído de raiz para tratamentos de Psiquiatria. Santa Casa da Misericórdia

Foram encontradas bactérias multiresistentes em 10 pacientes do Centro Hospitalar Conde Ferreira, sendo a maioria dos casos afetados pela bactéria multiresistente KPC, a Klebsiella pneumoniae carbapenemase, responsável pelas mortes de seis pessoas, em Vila Nova e Coimbra, há alguns meses.

Os 10 pacientes não desenvolveram ainda qualquer infeção e estão isolados para evitar contágio e impedir que as bactérias super resistentes aos antibióticos se desenvolvam.

A presença das superbactérias obrigou entretanto à suspensão de admissão de novos doentes na unidade hospitalar da Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP), como explicou à Antena 1 o provedor.

A Direção Geral de Saúde está a par da ocorrência. Já a administração do hospital diz que estes 10 pacientes estiveram noutras unidades com as quais a Santa Casa da Misericórdia mantém parcerias e que não foram sinalizados.

Ao Jornal de Notícias, a Misericórdia do Porto refere que estes são 10 pacientes num universo de "350 doentes". O Centro Hospitalar Conde Ferreira está vocacionado para doenças de foro psiquiátrico.

Em nota enviada ao JN, a SCMP afirma que "após confirmação do diagnóstico, os doentes foram imediatamente transferidos para uma unidade de isolamento para efeitos de tratamento, na sequência do qual já se verificou a regressão da bactéria em vários utentes".

A SCMP não mencionou as unidades de origem dos pacientes mas, se um doente não desenvolver sintomas durante o internamento - febre, prostração, dores no corpo, especialmente na bexiga, quando a infeção atinge o trato urinário e tosse nos episódios de pneumonia -, o rastreio da bactéria KPC habitualmente não é efetuado.
Uma bactéria modificada
A KPC tem origem na bactéria comum, Klebsiella Pneumoniae. Esta é geralmente ligada a infeções urinárias e que não costuma causar danos a pessoas saudáveis.

A bactéria Klebsiella Pneumoniae vista ao microscópio

No caso da KPC a bactéria desenvolveu uma alteração genética capaz de produzir a enzima carbapenemase contra diversos antibióticos. KPC significa Klebsiella Pneumoniae produtora de Carbapenemase.

A bactéria KPC propaga-se através de secreções e do contacto direto com o doente infetado, sendo quase sempre detetada em meio hospitalar sobretudo se não forem respeitadas normas básicas de desinfeção e higiene.

Desenvolve-se mais facilmente em organismos debilitados, sobretudo crianças, idosos, portadores de doenças crónicas e imunidade baixa ou submetidas a longos períodos de internação hospitalar.

Se se desenvolver num paciente, a KPC pode provocar pneumonia, infeções sanguíneas, no trato urinário, em feridas cirúrgicas, ou enfermidades que podem evoluir para um quadro de infeção generalizada muitas vezes mortal.

Dois surtos desta bactéria fizeram recentemente seis mortos em Portugal, três deles há cerca de um ano, em Vila Nova de Gaia, e mais recentemente outros três no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

Detetada pela primeira vez nos Estados Unidos há seis anos a prevalência da KPC tem vindo a aumentar na Europa.
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