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Dez anos depois, Direita recorda "político visionário" e elogia ideias de Lucas Pires sobre a Europa

por © 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

** Sónia Ferreira, Agência Lusa **

Lisboa, 21 Mai (Lusa) - Dez anos após a sua morte, o antigo eurodeputado Francisco Lucas Pires é hoje recordado como um "político visionário", com uma "lucidez premonitória" e cuja visão sobre a Europa e sobre a Direita "merecem reflexão".

Considerado pelo Presidente da República, Cavaco Silva, "um grande europeísta" e "um dos melhores políticos do regime democrático" português, Lucas Pires morreu a 22 de Maio de 1998, aos 53 anos, vítima de um enfarte do miocárdio.

"O modo como encarava o futuro da Europa, discutível como tudo o que é fruto de um pensamento próprio e original, situa-se muito para além das querelas artificiais que tantas vezes caracterizam os debates sobre a nossa participação na União", afirmou Cavaco Silva, num depoimento para um livro de homenagem a Lucas Pires, "A Revolução Europeia", que será lançado a 31 de Maio.

Manuel Queiró, que era deputado e porta-voz da comissão política do CDS quando Lucas Pires era presidente do partido (1983-85), considerou que "merece reflexão" hoje o seu pensamento político sobre "uma Direita sem fronteiras internas" e sobre a necessidade de aproximação à Europa.

"Foi um visionário pragmático. Foi a primeira pessoa a pôr em causa o socialismo enquanto modelo para a democracia e a economia", salientou, em declarações à Agência Lusa.

Outro ex-dirigente do CDS e seu colega de Governo, Anacoreta Correia, que integrou o grupo de Ofir, promovido por Lucas Pires para "pensar a direita", destacou o seu "pioneirismo intelectual", acrescentando que "tinha uma visão pura da política".

O ex-ministro da Educação de Cavaco Silva João de Deus Pinheiro, que conheceu Lucas Pires quando foi comissário europeu, destacou a "sua lucidez e a capacidade de visão".

"Relendo alguns dos seus textos verifica-se que teve uma visão premonitória sobre a integração europeia, antecipando algumas das questões que estão hoje em cima da mesma", como a globalização ou o modelo social europeu.

Contactado pela Lusa, o actual líder do CDS-PP, Paulo Portas, assinalou que Lucas Pires fez um "enorme e brilhante esforço de contra-cultura".

"Face à ideologia dominante do PREC [Processo Revolucionário em Curso], abriu alas a um pensamento liberalizador que fez o seu caminho. A integração europeia de Portugal não teria sido possível sem o cortar de amarras com a legitimidade revolucionária", frisou.

Por outro lado, assinalou, "grande parte das chamadas reformas estruturais encontram-se nos documentos do Grupo de Ofir", sustentando que "outros governos e outros políticos" se inspiraram nos contributos de Lucas Pires.

O percurso político de Francisco Lucas Pires, licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, iniciou-se em 1975 quando aderiu ao CDS, tendo sido eleito deputado entre 1976 e 1991, ano em que saiu do partido.

A indefinição dos centristas sobre o ideal europeu que abraçara foi um dos motivos que evocou para o seu afastamento.

Considerado uma das "cabeças mais brilhantes da Direita portuguesa", com reputação de "irreverente" e reconhecidos dotes de orador, Lucas Pires chega a vice-presidente do partido em 1978, insistindo na ideia de uma aliança dos partidos à direita, que se concretizaria em 1979 na Aliança Democrática com o PSD, de que foi coordenador-geral.

Em 1980 foi convidado por Pinto Balsemão para ser ministro da Cultura e Coordenação Científica, cargo que ocupou entre 1982-83.

Entre 83 e 85, Lucas Pires, líder do CDS, dedica-se a promover o Grupo de Ofir, de reflexão sobre a Direita, uma reunião de personalidades como Bagão Félix, Lobo Xavier e Anacoreta Correia.

Quando sai da presidência do partido, Lucas Pires começou a carreira europeia. Algumas das suas reflexões sobre a Europa estão expressas na obra "Portugal e o futuro da União Europeia -- sobre a revisão do Tratado de Maastricht em 1996".

Foi muito crítico das "posições anti-Europa" de Manuel Monteiro à frente do CDS transformado em CDS-Partido Popular, em relação ao qual se chegou a referir, em 1997, como um partido que já não existia.

No dia em que se filiou no PSD, pela mão de Marcelo Rebelo de Sousa, a 26 de Janeiro de 1997, Lucas Pires declarou publicamente que desejava morrer "como alguém que ajudou a dar nobreza à política portuguesa".

Hoje, o antigo eurodeputado Carlos Pimenta, que trabalhou com ele durante 11 anos, observa que Lucas Pires conseguiu esse desejo, elogiando a "cultura humanista" e uma atitude de equilíbrio que lhe granjeou o "respeito até dos que com ele divergiam".

Lusa/Fim


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