Os 28 detidos na "Operação Espelho" da Polícia Judiciária são esta quarta-feira presentes a tribunal, em Évora, para ficarem a conhecer as medidas de coação.
Os 28 detidos, oito mulheres e 20 homens, são de nacionalidade portuguesa e estrangeira.
A operação decorreu no âmbito de combate ao tráfico de seres humanos. Há também indícios de associação criminosa, auxílio à imigração ilegal, angariação de mão-de-obra ilegal, extorsão, branqueamento de capitais e posse de arma de fogo, entre outros.
As vítimas que eram angariadas na Índia, Paquistão, Moldova e Senegal vinham para Portugal trabalhar em explorações agrícolas no Alentejo. Quase sem receber salário, os trabalhadores viviam em condições insalubres e eram vítimas de maus-tratos. A Polícia Judiciária adiantou que foram identificadas dezenas de vítimas. E acredita que há pelo menos uma centena de imigrantes vítimas de exploração.
Quem ganha com esta situação?
Alberto Matos, da Associação Solidariedade Imigrante, defendeu, em declarações à RTP, que o processo seja "levado até ao fim". E recorda que a PJ já tinha levado a cabo uma operação semelhante em Cuba há um ano.
O responsável questiona "quais foram os resultados" da operação anterior?
Alberto Matos frisa ainda que muitos dos detidos ficam sujeitos a termo de identidade e residência, mas, "como são naturais de países terceiros, muitas vezes nem comunitários, podem, pura e simplesmente, desaparecer". "O que acontece em vários destes casos", salientou.
O responsável da Associação Solidariedade Imigrante recorda ainda que os trabalhadores "são levados todos os dias nas carrinhas para as explorações. Quais são as explorações? Quem é que está a ganhar com esta situação?".
"Para além das referidas redes mafiosas" quem "são os utilizadores?".
Segundo Alberto Matos, "há proprietários agrícolas que sistematicamente, por um preço, fantástico, que nem daria para pagar salários, quanto mais Segurança Social, conseguem obter um serviço no qual, estas redes mafiosas e estas empresas muitas delas de vão de escada, competem para um preço mais baixo. Portanto, alguém ganha com isto. E é isto que alimenta as próprias redes mafiosas".
Alberto Matos sublinha que estas operações da Polícia Judiciária são feitas "às cinco, seis sete da manhã. Não é sequer no local de trabalho. Ora, às vezes é preciso haver o flagrante no local de trabalho justamente para identificar os proprietários".
"Mas, toda a gente sabe, aqui no Alentejo, toda a gente conhece as herdades, sabe onde é que eles vão. Quais são as explorações para onde estas carrinhas se deslocam. Portanto, é preciso por o foco aí. Enquanto isto der dinheiro a muita gente, é evidente que há sempre quem arrisque. E muitas destas pessoas vivem em situações de desespero", rematou.