Derrame de lixo perigoso em Santiago do Cacém segue para a justiça

por RTP
“Chamámos a atenção de que podia haver o risco de ocorrer aqui um incidente. Está aí um exemplo de que tínhamos razão”, disse o presidente da Câmara de Santiago do Cacém, Vítor Proença RTP

O presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém exige o apuramento de “responsabilidades civis e criminais” pelo derrame de lixo perigoso ontem ocorrido no perímetro urbano da cidade. Parte da carga de lamas e nafta de um camião de transporte de resíduos industriais caiu ao longo de três quilómetros, obrigando ao encerramento de várias ruas. A limpeza ainda decorria quando Vítor Proença anunciou a intenção de levar o caso ao Ministério Público. Parte da responsabilidade cabe, segundo o autarca, à empresa Estradas de Portugal.

O derrame nas ruas de Santiago do Cacém ocorreu ao final da tarde de quinta-feira e terá ficado a dever-se, de acordo com o diretor da Proteção Civil Municipal, à falta de acondicionamento da carga de lamas e nafta transportada pelo camião. Em declarações à agência Lusa, Fernando Dinis explicou que se trata de lixo da indústria petroquímica de Sines que se encontrava depositado em aterro. Seguia para incineração num dos complexos de tratamento de resíduos industriais perigosos da Chamusca.

O presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, que esteve a acompanhar os trabalhos de limpeza do pavimento, já prometeu fazer uma participação ao Ministério Público. Vítor Proença não hesitou em assacar responsabilidades à Estradas de Portugal, questionando a remoção de placas que proibiam a circulação de pesados com mercadorias perigosas no perímetro urbano.

“Depois de contactos prévios com a Estradas de Portugal, há cerca de três, quatro anos, a Assembleia Municipal, sob proposta da Câmara, aprovou uma nova regulamentação de trânsito que proibia a circulação de viaturas pesadas com transporte de produtos perigosos. O município colocou essas placas de identificação, de proibição, e o que se constatou é que, dois dias depois, a Estradas de Portugal retirou de uma forma que eu considero abusiva, de uma forma quase violenta, esses mesmos sinais”, afirmou o autarca comunista à reportagem da RTP.

“Na altura nós chamámos a atenção. A Estradas de Portugal alegou que eram estradas nacionais e regionais, mesmo dentro do perímetro urbano, dentro da cidade de Santiago do Cacém, e nós na altura chamámos a atenção de que podia haver o risco de ocorrer aqui um incidente. Está aí um exemplo de que tínhamos razão”, insistiu.
“Uma operação difícil”
A gestão dos resíduos industriais, explicou o presidente da Câmara, é da responsabilidade da Águas de Santo André, que adjudicou as operações de armazenamento e tratamento à empresa EGEO. Por sua vez, a EGEO subcontratou a TML para fazer o transporte do lixo depositado no aterro sanitário de Maria da Moita, em Santiago do Cacém, para os centros integrados de Recuperação, Valorização e Eliminação de Resíduos Perigosos (CIRVER) da Chamusca.

Vítor Proença acusa também a empresa de transporte de ter “furado o esquema de segurança” ao “entrar pelo perímetro urbano, por dentro da cidade de Santiago”.

A Proteção Civil aconselhou os moradores das ruas afetadas a manterem portas e janelas fechadas. Os trabalhos de limpeza prolongaram-se pela madrugada. Ouvido durante a noite pela Antena 1, o presidente da Câmara descreveu as operações em curso: “Está-se em trabalho de remoção com jatos de água de pressão, com um cuidado muito grande com as pluviais, que estão todas protegidas com pó de pedra”.

“A Proteção Civil está aqui connosco, com a GNR e empresas que foram contratadas, entretanto, com a máxima urgência para a remoção destes resíduos, porque eles agarram com muita facilidade. É um betuminoso e há calçada grossa. Isto é uma cidade antiga. É uma operação difícil e estamos a tentar ao máximo minimizar riscos para a população e para a circulação”, relatou o autarca à rádio pública.
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