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Depois da iluminação, paragens em Lisboa falham noutro teste: proteção contra a chuva

por Gonçalo Costa Martins - Antena 1

Fotos: Gonçalo Costa Martins - Antena 1

Estão a ser instaladas paragens para os transportes públicos, mas nem tudo tem corrido bem. Somam-se as queixas da falta de iluminação, mas, em dia de chuva no verão, os passageiros de Lisboa dizem que não estão protegidos.

Numa estrada ao lado da Calçada de Carriche, a paragem da carreira 736 é protegida por uma barreira de betão. De um lado, o trânsito, do outro os autocarros que passam pelo abrigo instalado num passeio apertado e improvisado.

Consequência? A paragem não tem paredes laterais e o resguardo em cima é mais curto. "Todas as que são iguais a esta não nos vão proteger da chuva", comenta a passageira Isabel Moura, enquanto as outras, em passeios de maiores dimensões, são "razoáveis".


Virada para a esquerda, de olho no autocarro que pode chegar a qualquer momento, Isabel não tem guarda-chuva e as nuvens estão carregadas nesta terça-feira, dia 9 de julho.

O abrigo "não protege muito, acho que podia ser melhor", afirma Fera em inglês, também na paragem e sem guarda-chuva, pelo que afirma que está a ficar "molhada".

A jovem veio para Portugal fazer um mestrado e chegou há um mês, altura em que esta paragem na Ameixoeira, na freguesia de Santa Clara, foi renovada.

Fera só conheceu esta versão da paragem, que trouxe duas novidades: entradas USB para carregar telemóvel (algo que elogia) e dois encostos metálicos novos (preferia que fossem cadeiras, embora antes de junho não houvesse nada para sentar).

Ainda assim, no momento em que Fera e Isabel estavam na paragem, ninguém se sentou.


Já depois de entrarem no autocarro, chegou Sana Cassama. Ele repete a crítica de que a paragem não protege da chuva, mas acrescenta que falta iluminação.

A luz "vem da parte detrás (do bairro) e da zona da estrada", pelo que no meio, na paragem, "precisamos de luz, para dar um pouco de claridade".

A Câmara Municipal de Lisboa já reconheceu este problema e vai pressionar a empresa a resolvê-lo. A autarquia, liderada por Carlos Moedas, afirma que a iluminação não estava prevista no contrato que veio do mandato de Fernando Medina.
Fragilidades retiram conforto

Foi em 2022 que entrou em vigor o contrato de 15 anos da Câmara Municipal de Lisboa para a empresa JCDecaux renovar o mobiliário urbano da cidade. Além da colocação de mupis (painéis publicitários) e de casas de banho públicas, está prevista a colocação de dois mil abrigos nas paragens de transporte público.

Desse número, cerca de 1.760 são renovações de abrigos já existentes - o objetivo era uniformizar paragens que tinham vários estilos - e cerca de 240 abrigos são novos, em locais onde antes não existiam.

A Antena 1 questionou a empresa e a autarquia, mas não obteve resposta sobre o número de paragens que já foram construídas. Segundo apurou a rádio pública, a maior parte dos abrigos já terá sido construída.



As obras começaram no ano passado e as críticas têm-se somado: bancos altos, falta de iluminação, ruas que se tornaram estaleiros e, agora, a falta de proteção contra a chuva, apontada ainda no verão.


A professora de urbanismo e geografia no ISCTE Rosália Guerreiro afirma que todos estes problemas retiram conforto aos passageiros, algo que destaca por as paragens serem o primeiro contacto com os transportes públicos.

"Há uma espécie de produção em série de paragens de autocarro, todas iguais", em que "o desenho urbano do local e do respetivo diagnóstico do local e das necessidades não chega a ser feito".

Rosália Guerreiro acredita que esta não tem sido uma preocupação das câmaras municipais, porque o desenho urbano "é o parente pobre no planeamento das nossas cidades".

No entender da professora e investigadora, é preciso garantir que cada paragem tenha conforto, acessibilidade, e que seja visível e bem iluminada - "não ser um espaço escondido, até por uma questão de criminalidade".
Habituada a estudar o comportamento humano nas cidades, Rosália Guerreiro aponta as paragens até como locais de socialização, em que é possível ter associadas "outras atividades, como um café ou um quiosque, em que posso estar à espera do autocarro, de olho e a beber um café".
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