Demitiram-se esta segunda-feira os dez chefes da equipa de urgências de cirurgia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Os médicos haviam avançado com um prazo até 22 de novembro para que a unidade hospitalar de Lisboa resolvesse a situação das escalas de serviço, que consideram não exequível.
No pedido de demissão, os chefes de equipa mostram-se solidários com os assistentes, defendendo ainda que "a escala de urgência de cirurgia geral não é exequível". Os médicos dizem estar exaustos, com o número de horas extraordinárias previsto na lei ultrapassado.
Os chefes de serviço de urgência e administração do hospital de Santa Maria estiveram em conversações durante a semana passada e reunidos esta manhã, mas não conseguiram chegar a acordo.
“Apesar daquilo que foi publicamente assumido por parte do senhor presidente do Conselho de Administração, a verdade é que, nestes dias, nada aconteceu e assim sendo, foi formalizado o pedido de demissão”, confirmou à Antena 1 Jorge Roque da Cunha, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, que acusa o Conselho de Administração do Hospital de Santa Maria de manter uma atitude "perfeitamente inqualificável".
“Sabemos que muitas das coisas são estruturais do SNS e que não permitem resolver alguns dos anseios que os médicos têm, mas outras seriam de organização dos serviços de urgência e penso que não houve um acordo que chegasse ao entendimento dos chefes de urgência”, disse também à RTP Alexandre Valentim Lourenço, presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos.
“A urgência hospitalar precisa há muitos anos de uma reformulação que faça com que venham a estes serviços os doentes que deles precisam, e não outros, e que estes serviços estejam vocacionados para a sua atividade”, defende Alexandre Valentim Lourenço.
“Alguns destes médicos estão a fazer mais de mil horas de urgência por ano a mais do que aquilo que seria devido. Eles estão esgotados”, afirmou.
O secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales, reconheceu que existem “situações pontuais” e avançou que estavam a “a fazer um esforço para resolver o problema”. “Está a ser refletida a valorização das carreiras dos profissionais deste setor”, disse Lacerda Sales a semana passada.
Já Daniel Ferro, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa-Norte (CHULN), explicou que a ameaça de demissão no Hospital Santa Maria se deve a problemas de recursos humanos e questões de organização e avançou à RTP que existem processos de recrutamento em marcha.
Daniel Ferro afirma que foi contratado “o maior número desde sempre”, mas ressalva que isso “não significa que eles sejam suficientes”. “As orientações que temos dado é que as direções dos serviços identifiquem todas as oportunidades de contratação e todas as oportunidades de contratação serão asseguradas”, disse o presidente do Conselho de Administração do CHULN em entrevista à RTP.