A demissão de Marta Temido apanhou de surpresa os profissionais da área. Médicos e enfermeiros esperam que o novo ministro ou ministra da Saúde resolva os problemas que o Serviço Nacional de Saúde atravessa e que o Governo mude as estratégias políticas.
Miguel Guimarães não ficou surpreendido com a demissão de Marta Temido “é uma decisão do primeiro-ministro e o primeiro-ministro é que sabe porque é que aceitou o pedido de demissão”.
“Em termos práticos, eu acho que a senhora ministra acaba por apresentar a demissão por não ter uma alternativa para resolver as questões que neste momento são conhecidas de todos e que estão a afetar a saúde, nomeadamente a nível do Serviço Nacional de Saúde, e não tendo alternativas”, afirmou Miguel Guimarães à RTP.
Para o bastonário da Ordem dos Médicos, “a política de saúde que o Governo seguiu até agora foi esta. E portanto, é isto que nós temos”.
“Eu não sei se o Governo vai ou não vai mudar dentro daquilo que é a estratégia de políticas para a saúde, a vários níveis”, entre os quais o modelo de gestão do SNS, capital humano, revisão das carreiras dos profissionais de saúde. Miguel Guimarães considera que “há um conjunto enorme de coisas, relativamente áquilo que é uma estratégia global para a saúde do país para o SNS e para a saúde como um todo, que eu não sei se o Governo por mudar de ministro, vai ou não vai, a estratégia que defendeu durante a campanha eleitoral”.
Segundo o bastonário, o perfil ideal para o cargo é alguém que conheça bem a saúde, que conheça aquilo que se faz pela Europa, que esteja disponível para ajudar os cidadãos e reconhecer aos profissionais de saúde aquilo que é o seu papel primordial no sistema de saúde. Demissão no meio do processo de remodelação do SNS O presidente da Associação Nacional de Saúde pública ficou surpreendido com a demissão da ministra no meio do processo de remodelação do Serviço Nacional de Saúde que foi iniciado por Marta Temido.
Gustavo Tato Borges afirmou que, “não estava à espera que a ministra da Saúde se demita nesta altura em que está a enfrentar problemas agudos e que de facto havia um processo que ela tinha iniciado, uma remodelação do Serviço Nacional de Saúde”.
“De facto foi uma surpresa, nesse sentido, apesar de entender que de facto já havia um coro de críticas bastante alargado à ministra. E que ela própria também estaria desgastada pessoalmente, depois de tanto trabalho que teve de enfrentar no combate à pandemia. É uma decisão que cabe a ela”, sublinhou Gustavo Tato Borges em declarações à RTP. O presidente dos Médicos de Saúde Pública defende que o “mais importante é o Governo olhar rapidamente para uma solução, para o sucessor, para uma pessoa que venha, que conheça o Serviço Nacional de Saúde de dentro para fora”.
Para Tato Borges, o perfil ideal para o novo titular da pasta da Saúde no atual contexto “é alguém que conheça o Serviço Nacional de Saúde, que tenha trabalhado em vários níveis, que conheça os problemas e que tenha contacto com os profissionais, de maneira a perceber que soluções possam ser tecnicamente mais indicadas. Também tem de ser uma pessoa com algum peso político, para que possa ter a autonomia e o espaço de manobra para poder dizer ao Governo o caminho a seguir. E ter essas suas ideias implementadas”. Sindicato Independente dos Médicos surpreendido O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) considera que na origem da demissão de Marta Temido estão problemas estruturais.
Jorge Roque da Cunha afirmou no Bom Dia Portugal que “compreende a decisão do primeiro-ministro de aceitar o pedido de demissão de Marta Temido”.
O secretário-geral do SIM reconhece que a pasta da Saúde é extremamente difícil” e os “problemas têm vindo a acumular-se nos últimos anos”.
Jorge Roque da Cunha está convencido que não terá sido só o caos nas urgências que levaram à demissão de Marta Temido, “haverá com certeza outras matérias que terão conduzido a esta situação”. “A incapacidade de reter médicos no Serviço Nacional de Saúde, a própria atitude da ministra da Saúde em relação à Ordem dos Médicos, quando a Ordem dos Médicos decidiu criar um regulamento onde estabelece equipas mínimas para dar segurança aos próprios utentes. A decisão de muitos médicos que compreendendo que, na altura da pandemia, é possível fazer-se 400, 500 até 600 horas extraordinárias, não aceitam de extraordinárias passassem a ordinárias”, acrescentou.
Roque da Cunha recordou que quando um médico faz 600 horas extraordinárias, “estamos a fazer com que ele trabalhe cerca de 60 dias úteis”.
O secretário-geral do SIM espera que o próximo titular da pasta da Saúde tenha mais condições.
Mudar políticas para a área da Saúde
Já o presidente da Federação Nacional dos Médicos espera que o próximo ministro tenha mais condições. Noel Carrilho considera que mais do que mudar o titular da pasta é necessário alterar as políticas para a área da Saúde.
“É indisfarçável a dificuldade a capacidade, representada na figura da ministra, para resolver os problemas do Serviço Nacional de Saúde. Está à vista de todos que não têm sido estas políticas conducentes a algo que seja de positivo para os portugueses”, frisou Noel Carrilho em entrevista ao Bom Dia Portugal. Para o presidente da Federação Nacional dos Médicos é necessário que “haja uma mudança de política. Isso é que é importante”.
Sobre a escolha do novo titular da pasta, Noel Carrilho defende que “agora é essencial que não se perca tempo nem energia na escolha do nome, quando o que é necessário é uma modificação radical de política que se reflita no terreno de forma urgente, diria eu, porque o mundo não pára e há problemas muito gravosos a terem que ser abordados”.
Período conturbado O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses espera que a mudança de ministro não afete os processos negociais em curso e está parcialmente surpreendido com a decisão.
Guadalupe Simões considera que “era expectável” que a demissão viesse a acontecer face aos acontecimentos deste verão.
“Importa não esquecer que esta ministra, foi ministra durante um dos períodos mais complicados para Portugal e para o Serviço Nacional de Saúde atravessou. Foi também com esta ministra que foi possível discutir uma alteração da Lei de Bases da Saúde, na nossa opinião uma lei mais identitária com o que é o próprio Serviço Nacional de Saúde, restituindo-lhe uma força comparativamente à anterior”, realçou a presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.
Guadalupe Simões recordou que os problemas estruturais do Serviço Nacional de Saúde “têm vindo a atravessar governos e ministros diferentes que nunca foram resolvidos. E alguns deles, antes pelo contrário, agravaram-se”.
“A precessão que as pessoas têm do SNS é a sua degradação, uma falta de acessibilidade aos cuidados de saúde, a dificuldade de entrar no Serviço Nacional de Saúde. Mas isso não é um problema de agora”, realçou.
O sindicato espera que o novo titular dê seguimento aos processos negociais e recorda que em relação aos profissionais de enfermagem há um processo negocial em curso que deve terminar em setembro. Atraso no processo negocial O Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal teme que a demissão da ministra da Saúde atrase o processo negocial iniciado em maio e que, supostamente, estaria finalizado em setembro.
Carlos Ramalho afirmou à RTP que os enfermeiros ficaram surpreendidos com a decisão, mas perante o que está a acontecer neste momento no Serviço Nacional de Saúde vimos a preocupação do processo negocial não ser concluído e dos profissionais de enfermagem continuarem à espera de solução para os problemas que a classe atravessa.
Do próximo ministro, o sindicato “espera a continuidade do processo negocial e a sensibilidade para a questão dos enfermeiros. Porque todos sabemos que os problemas que o Serviço Nacional de Saúde atravessa não se resumem à questão de alguns profissionais mas sim de todos”.
“Queremos que o próximo ministro seja uma pessoa muito sensível, ainda mais do que a ministra até a atualidade e que veja de uma forma global os problemas dos enfermeiros e esteja interessada em negocia-los e decidi-los muito rapidamente”, frisou Carlos Ramalho à RTP.
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