Defesa de Carlos Cruz aponta "dez pecados mortais" à investigação

por © 2009 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Lisboa, 13 Jan (Lusa) - A defesa do apresentador Carlos Cruz apontou hoje "dez pecados mortais" à investigação do processo de pedofilia da Casa Pia que considera terem contribuído para a "inquinação da prova" levada a julgamento.

Falta de rigor e inadequação nos métodos de investigação e "promiscuidade" dos investigadores com a comunicação social foram alguns dos "pecados" indicados pelo advogado Ricardo Sá Fernandes no terceiro dia de alegações finais no Tribunal de Monsanto, em Lisboa.

O advogado acusou o Ministério Público e a Polícia Judiciária de não terem feito vigilâncias, buscas ou apreensões para consubstanciarem as prisões preventivas dos arguidos, de "indiferença" na investigação dos locais dos crimes, "escamoteamento" de dados, "inquinação" dos interrogatórios e "preconceito quanto à culpa dos arguidos".

Dos dez "pecados" apontados, o advogado elegeu como "talvez o aspecto mais grave" a "indiferença quanto à investigação do local do crime", salientando que na casa de Elvas, no apartamento da Avenida das Forças Armadas e no consultório do médico Ferreira Dinis, locais onde alegadamente ocorreram abusos sexuais, os investigadores deviam ter inquirido vizinhos, saber se tinham visto os rapazes e até confirmar as plantas com as câmaras municipais.

"Três procuradores e dez polícias não fizeram nada, quando até um estudante liceal teria tido essa capacidade", argumentou.

Do mesmo modo, sustentou que "estes homens não sabiam fazer interrogatórios" com alegadas vítimas de abuso sexual, apesar de haver um manual da polícia com esses procedimentos.

Ricardo Sá Fernandes insistiu ainda na "promiscuidade com a comunicação social", para afirmar que se tratou de "uma pseudo-investigação", com "tráfico de influências e troca de favores" entre investigadores e jornalistas.

Referiu ainda que os depoimentos de vários jovens casapianos em entrevistas na comunicação social quando o escândalo rebentou, ainda antes de muitas das alegadas vítimas serem ouvidas pela polícia, criaram "estereótipos e clichés" que foram absorvidos, consciente ou inconscientemente, pelos rapazes.

"O que os testemunhos têm em comum é o que vêem na televisão, é o guião a que vão aderindo", disse.

Nas alegações deixou também a ideia de que na relação da comunicação social com este processo procurou-se sempre lançar a ideia de que estariam envolvidas pessoas ricas e famosas, numa altura em que o escândalo motivou uma guerra de audiências entre as televisões e que o assunto Casa Pia levou os programas de informação a superarem as audiências do popular "reality-show" Big Brother.

Ricardo Sá Fernandes evidenciou ainda registos do telefone de Carlos Silvino que mostram, segundo o advogado, que o ex-motorista nunca fez chamadas do seu telemóvel na zona de Elvas, considerando estranho que esses dados só tenham chegado ao conhecimento das defesas "há dois meses atrás" e apontando "escamoteamento" de dados essenciais para o processo.

Para o advogado, todas estas circunstâncias tornam o processo Casa Pia "um colete que só um tribunal sereno, racional e imparcial pode desatar".

Durante a manhã de hoje, a defesa de Carlos Cruz pretendeu ainda desfazer o "equívoco" de que o principal arguido, o ex-motorista da Casa Pia Carlos Silvino, corrobora os testemunhos dos jovens.

Apesar de os jovens o indicarem como angariador de jovens para alegados abusos sexuais com os arguidos, Carlos Silvino defende que apenas "dava boleia" aos casapianos, disse Ricardo Sá Fernandes.

"A posição de Carlos Silvino neste processo é um equívoco, é uma equação que não tem solução e é por isso que ele é um falso corroborador" das acusações, afirmou também.

Além de Cruz, Ferreira Diniz e Carlos Silvino, respondem em tribunal neste processo o ex-provedor-adjunto da Casa Pia Manuel Abrantes, o embaixador Jorge Ritto, o advogado Hugo Marçal e Gertrudes Nunes, dona da casa de Elvas onde terão ocorrido abusos sexuais com alunos casapianos.

APN/AMN/FC.


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