Miranda do Corvo, 16 mai (Lusa) - Uma equipa da Universidade de Coimbra (UC) está a desenvolver em Miranda do Corvo um estudo pioneiro no país sobre novos sistemas de decomposição aeróbica de cadáveres em espaços cemiteriais, disse à agência Lusa a coordenadora Teresa Ferreira.
"Estamos a estudar novas soluções de decomposição de corpos sepultados em gavetões, que sejam bem aceites no contexto cultural, para resolver os problemas de gestão dos cemitérios", explicou a professora de antropologia do departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências da UC, doutorada em antropologia forense.
O estudo iniciou-se em março, na empresa Beira Cruz Lda, de Miranda do Corvo, que constrói edifícios em cemitérios para sepulturas e gavetões de decomposição aeróbica, através do sistema Beiracorvo®, que assenta num princípio de ventilação dos cadáveres sem libertação de odores.
A primeira fase de experimentação iniciou-se com a deposição de carcaças de leitões em gavetões, para "simular ao máximo o que se passa com os corpos humanos", de acordo com "os diferentes sistemas de decomposição aeróbica".
Segundo a investigadora Teresa Ferreira, "trata-se de um estudo pioneiro em Portugal", que pretende analisar o processo de decomposição aeróbica em cada ambiente, tendo em consideração, neste caso, "o mesmo peso, sexo, idade e ninhada" dos leitões.
Numa segunda fase, que terá início em julho, a investigação vai envolver a decomposição de carcaças de leitões em urna no verão e depois no inverno.
"Existem poucos estudos deste género no estrangeiro e os que existem são orientados, na esmagadora maioria, numa perspetiva meramente forense", sublinhou a coordenadora do estudo que se vai prolongar durante três anos.
A investigação pretende encontrar novos métodos que permitam realizar exumações ao fim de três anos, como prevê a legislação em vigor, mas que, por norma, não acontece por insuficiente decomposição dos corpos.
A investigadora sublinhou as vantagens ambientais do sistema de gavetões, em que não há contacto dos resíduos com os solos, devido a um sistema de caixas estanques, e os odores são filtrados por um depurador de carvão ativado.
"Diminuímos o impacte ambiental e melhoramos a gestão dos técnicos do cemitério, na medida em ocupam menos espaço e podem ser construídos em qualquer cemitério, independentemente da qualidade dos terrenos", salientou.
António Simões, da Beira Cruz, a maior empresa em Portugal na construção de edifícios cemiteriais para sepulturas e gavetões, referiu à agência Lusa que o estudo "visa melhorar e aprofundar o sistema de decomposição".
"Com estes testes pretende-se avaliar cada um dos sistemas de decomposição aeróbica sob estudo, com o objetivo de melhor conhecer os processos de decomposição, encontrando soluções práticas e eficientes para os problemas de gestão funerária até agora identificados nos cemitérios portugueses", referiu o empresário.