Loures, Lisboa, 28 mar (Lusa) - O debate para a localização da Ponte Vasco da Gama, inaugurada em 1998, foi "intenso" e dividiu autarcas das duas margens do Tejo, segundo recordou à agência Lusa o antigo presidente da Câmara de Loures Demétrio Alves.
Inaugurada a 29 de março de 1998, a Ponte Vasco da Gama, que liga as margens Norte e Sul do Tejo, conta com 17,2 quilómetros de extensão e representou um investimento e 897,8 milhões de euros.
No início do processo de construção desta ponte, por volta do ano de 1990, o comunista Demétrio Alves presidia à Câmara Municipal de Loures e teve "um papel muito ativo" no processo de discussão que levou à escolha do local onde seria a construção da Ponte Vasco da Gama, segundo contou o autarca à Lusa.
"Todo este processo foi marcado por grandes debates e análises que dividiram os concelhos da margem Norte e da margem Sul, independentemente dos partidos. Havia municípios do mesmo partido que tinham opiniões diferentes. Não foi fácil selecionar esta opção de travessia", sublinhou.
Além da hipótese da atual localização desta infraestrutura, estavam em cima da mesa mais duas possibilidades, nomeadamente entre Chelas e o Barreiro e entre Algés e a Trafaria, esta última defendida pelo atual e à data presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais.
Vinte anos depois da conclusão da ponte, Demétrio Alves, que exerceu também o cargo de 1º secretário do Conselho Executivo da Área Metropolitana de Lisboa, reconhece que a opção entre Chelas e o Barreiro, designada por "corredor central" teria sido, igualmente, uma boa opção para construir a Vasco da Gama, defendendo para este local a construção de uma terceira travessia do Tejo.
"Tenho de reconhecer que esta proposta tinha mérito. Em Loures inclinamo-nos para a localização na zona Oriental porque seria, como se verificou mais tarde, a que traria mais impacto positivo para o concelho", apontou.
Ainda sobre a localização da ponte, Demétrio Alves considerou que a escolha que se fez "acabou por influenciar a decisão de atribuir a Portugal, mais concretamente à cidade de Lisboa, a realização da Expo`98.
"Tenho a convicção profunda e até provas documentais de que um dos parâmetros que se teve em conta e fez inclinar a balança para Lisboa foi a de que neste sítio iria aparecer uma ponte que fazia a travessia e ligava diretamente a Espanha, trazendo muitos visitantes", atestou.
Quando aos impactos da construção da Ponte Vasco da Gama, Demétrio Alves considerou que esta, além de originar o surgimento de várias infraestruturas viárias, ajudou a potenciar a regeneração urbana das zonas orientais dos concelhos de Loures e Lisboa, eliminando, por exemplo, vários núcleos de construções precárias e "permitindo o realojamento de centenas de famílias".
"Foi um processo dolorosíssimo e muito complicado. As soluções de realojamento nunca são perfeitas e, ainda por cima, nós tivemos de fazer isto tudo entre 1994 e 1996/97. Ou seja, foi um período curtíssimo e, evidentemente, isso deu um grande trabalho", recordou.
Questionado sobre os contras desta infraestrutura, Demétrio Alves apontou para a "forte dispersão territorial" que provocou nos concelhos da margem Sul do Tejo, sobretudo no do Montijo e de Alcochete.
No entanto, para o antigo autarca, o balanço desta obra é "extremamente positivo": "É uma obra de arte e uma assinatura da região de Lisboa. Muitas pessoas conhecem Lisboa e esta região pela Ponte 25 de Abril e agora pela Vasco da Gama. Agora está na altura de se avançar para o corredor central", concluiu.