"Isso aí trouxe uma novidade completa". Foi o comentário do Bispo de Leiria-Fátima quando confrontado com a revelação que consta no livro "Fátima: Das Visões dos Pastorinhos à Visão Cristã", do bispo D. Carlos Azevedo, sobre a nomeação do Cónego Correia da Silva para a diocese, em 1920, três anos depois do fenómeno de Fátima e dois anos depois da restauração da diocese.
D. António Marto lembra como muito vezes se interrogou sobre o porquê da demora.
Com efeito, o primeiro nome indicado pelo Patriarca de Lisboa, D. António Mendes Belo, foi o do monárquico Sebastião de Vasconcelos, antes bispo de Beja. A indicação foi rejeitada pelos outros bispos e provocou uma reação negativa nalguns círculos católicos locais.
A escolha recai então em alguém "desejado do povo de Leiria", o cónego António Antunes. Contudo, quando tudo se encaminhava para que fosse o escolhido, o Bispo de Coimbra pede para que ele seja seu auxiliar. O processo é suspenso e só será retomado quando é nomeado um Núncio para Portugal na sequência do restabelecimento das relações diplomáticas com a Santa Sé.
Achille Locatelli pede aos bispos a indicação de nomes e dá-se um empate, a 3-3, entre José Alves Correia da Silva (nome indicado pelo Patriarca de Lisboa e pelos bispos do Porto e de Portalegre) e Agostinho de Jesus e Sousa (indicado pelo Patriarca de Lisboa e pelos bispos de Braga e Bragança).
Nas observações que envia para o Vaticano, o Núncio dá nota negativa aos dotes oratórios do candidato de Braga e considera que o cónego Correia da Silva "é bom orador e parece mais ativo, energético e preparado nas questões sociais, tão úteis nestes tempos e especialmente neste país".
A decisão é comunicada ao cónego escolhido no dia 13 de fevereiro de 1920. Correia da Silva será assim o primeiro bispo de Leiria.
Como explica o autor, em nenhum momento do processo episcopal de José Alves Correia da Silva, os "acontecimentos de Fátima são chamados ou citados".
À data da nomeação, o novo bispo nada sabia nem tão pouco se interessava pelo fenómeno de Fátima que dizia serem "coisas de crianças".
No entanto, o atual bispo de Leiria lembra, citando monsenhor Luciano Guerra, antigo reitor do santuário, que em 1922 e depois de já ter falado várias vezes com Lúcia, D. Correia da Silva estava convencido.
Como sublinha o autor do livro "Fátima: Das Visões dos Pastorinhos à Visão Cristã", apesar do desconhecimento inicial, a nomeação de D. Correia da Silva acabaria por ser "fundamental para o crescimento e a evolução do culto mariano na Cova da Iria".