D. Américo Aguiar: "Moralmente a Igreja tem toda a obrigação de pagar a indemnização"
Foto: António Pedro Santos - Lusa
O bispo auxiliar de Lisboa considerou esta segunda-feira, em entrevista à RTP, que a Igreja tem o dever moral de pagar indemnizações às vítimas de abusos sexuais no seio da instituição. D. Américo Aguiar lembrou que "o sofrimento não prescreve".
“Se alguém for condenado a pagar uma indemnização a uma vítima e não tiver condições para o fazer, eu acho que a Igreja deve substituir imediatamente e cumprir com aquilo que seja a indemnização”, considerou.
“E também nos casos em que ficar claro que a Igreja encobriu ou criou um ambiente propício a que as coisas tivessem acontecido, moralmente a Igreja tem toda a obrigação de pagar a indemnização”.
“Nós não nos podemos alhear desse sofrimento do qual somos também parte”, acrescentou d. Américo Aguiar em relação a este tema.
Em relação aos “cinco ou seis” sacerdotes suspeitos de abusos sexuais a menores e que permanecem no ativo, o bispo avançou que a Comissão Diocesana de Lisboa pediu na passada quinta-feira à Comissão Independente que complementasse a lista de nomes entregues com todas as informações que tenha quanto a cada um deles.
Depois de receber esses dados, a Comissão Diocesana irá recomendar ao patriarca o que deve fazer, sendo uma das possibilidades “o afastamento do exercício”, ou seja, a suspensão, explicou d. Américo Aguiar.
Dioceses devem dar resposta nos próximos "dias ou semanas"
Questionado sobre a posição do presidente da República, que numa entrevista à RTP na semana passada disse estar desiludido com a resposta da Igreja, o bispo auxiliar de Lisboa disse compreender Marcelo Rebelo de Sousa, mas também o presidente da Conferência Episcopal.“E não estou em contradição”, garantiu, já que Marcelo Rebelo de Sousa “quer celeridade (…) mas quem está dentro, como a diocese, entende que está com a celeridade que é possível”.
“Posso garantir que cada uma das dioceses está a trabalhar com verdade, com seriedade, de maneira a que as vítimas sejam respeitadas. E nós não podemos abdicar disto”, para que “a justiça e a verdade possam finalmente ser repostas”, declarou o responsável.
D. Américo Aguiar disse ainda estar convencido que nos próximos dias ou semanas “todas as dioceses corresponderão a essa urgência e a essa vontade de celeridade que o senhor presidente da República manifestou”.
No dia em que se assinalam os dez anos de pontificado do papa Francisco, o bispo considerou também que este deu continuidade aos passos iniciados por João Paulo II e por Bento XVI no que diz respeito ao combate aos abusos sexuais na Igreja.