"Criminalidade organizada". Ministra da Justiça anuncia emissão de mandados europeus de reclusos evadidos
A ministra da Justiça considerou de "uma gravidade extrema" a "fuga de cinco reclusos em plena luz do dia". Em entrevista à RTP, Rita Júdice declarou tratar-se de "criminalidade organizada" e anunciou que os mandados de detenção europeus dos reclusos que se evadiram no sábado do estabelecimento prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, já foram emitidos.
"Acredito que, dentro da prisão, o processo tenha corrido mal", afirmou a ministra no Telejornal, acrescentando querer "acreditar que no processo de investigação tudo corra perfeitamente e com a maior celeridade possível" para se conseguir "capturar os fugitivos" e "apurar as responsabilidades".
Para localizar os reclusos que fugiram, a ministra afirmou que "todos os meios à disposição das polícias estão ativados" e que, a nível internacional, foram emitidos mandados europeus esta terça-feira.
"A fuga foi gravada. Está totalmente registada nos sistemas de vídeo-vigilância, com a hora a que ocorreu", admitiu Rita Júdice. "O que nos permite hoje saber com clareza o processo de fuga (...), mas não sabemos em concreto o que esteve na base da falha do não visionamento daquele momento nas câmaras de vigilância".
Na infraestrutura prisional estão instaladas centenas de câmaras, confirmou a governante, e há um "guarda que está encarregue pelo processo de visionamento" que "vai selecionando as alas a que dará maior prioridade de visionamento" nos ecrãs.
"Gravidade extrema"
No caso de ter havido cumplicidade interna para a fuga, a ministra da Justiça considerou que seria de "uma gravidade extrema", uma vez que "põe em causa as investigações, a segurança, porque estamos a falar de um relatório feito ao interior de um estabelecimento prisional"."Aquele relatório ter sido divulgado é de uma gravidade com a qual nós não podemos também compactuar", acrescentou.
Sem confirmar ou rejeitar a possibilidade de cumplicidade interna, Rita Júdice assegurou que "todos os processos de averiguação estão a decorrer".
"Houve ajuda externa, sem dúvida nenhuma", referiu. "Quando tivermos mais dados que possamos revelar sem comprometer as investigações não deixaremos de os dar".
Questionada sobre os "erros, falhas e desleixo" que mencionou na conferência de imprensa desta tarde, a governante esclareceu que "são todas as que redundaram nos sucessivos exemplos que vimos acontecer", como "falhas que permitiram o escadote chegar ao muro".
"Não nos deixemos iludir com o aparente caricato de uma escada encostada a um muro. Este plano de fuga foi gizado ao menor pormenor, foi tudo pensado e foi tudo programado para o sucesso".
"Algo falhou", disse ainda, clarificando que, por isso, ordenou que "fosse feita com a maior prioridade" inspeção a "tudo o que é sistemas de vigilância" e à gestão dos serviços prisionais.
Sobre o diretor interino da prisão de Vale dos Judeus, Rita Júdice garantiu que "ter um diretor nomeado" para substituir o anterior que se aposentou não é uma situação "de não existência de direção".
Já quanto ao estado do setor da Justiça quando tomou posse, a ministra respondeu que nas reuniões com as entidades e profissionais foram reportadas "situações preocupantes".
"Esta situação e este relatório põe em evidência muitas outras preocupações que nós não conhecíamos e que tomamos conhecimento", adiantou, sem detalhar.
"Não estamos a falar de uma situação de agora. Estamos a falar de situações que se têm arrastado nos últimos anos, como a falta de investimento e decisões que foram tomadas designadamente ao nível da gestão dos estabelecimentos prisionais que deixam muito a desejar".