Covid-19. INSA detetou "algumas dezenas" de casos da linhagem XBB da variante Ómicron

por Inês Moreira Santos - RTP
Tyrone Siu - Reuters

Foram detetadas em Portugal "algumas dezenas de casos" da linhagem XBB do SARS-CoV-2, mas apenas um foi classificado como sendo da sublinhagem XBB.1.5, associada a uma maior transmissibilidade, de acordo com o Instituto Ricardo Jorge (INSA). Já esta esta semana, a Organização Mundial da Saúde informou que estava a avaliar os riscos que comporta uma infeção com esta variante, adiantando que se dissemina mais rapidamente devido às mutações que permitem que se replique facilmente.

"A recombinante XBB.1.5 é uma sublinhagem da linhagem XBB - uma das múltiplas linhagens da variante Ómicron -, a qual, tal como a própria XBB, se pensa estar associada à fuga ao sistema imunitário", explicou à Lusa o investigador do INSA João Paulo Gomes.

De acordo com o especialista, que coordena o estudo sobre a diversidade genética do SARS-CoV-2 em Portugal, esta sublinhagem "poderá estar associada a uma maior transmissibilidade, dado o seu significativo aumento de frequência em algumas regiões" do mundo. Todavia, o mais prudente será “aguardar pela sua evolução de frequência em múltiplos países para se perceber o seu real impacto epidemiológico".

Para João Paulo Gomes, "ainda é cedo" para se perceber se esta sublinhagem terá algum impacto significativo nas hospitalizações por covid-19 por ser diferente das outras linhagens já em circulação da variante Ómicron.

A variante XBB.1.5 é uma recombinante de duas sublinhagens da BA.2 e foi originalmente identificada em outubro de 2022, tendo já sido detetada em 29 países.
XBB.1.5 já representa 40% dos casos nos EUA
Esta sublinhagem começa a ser motivo de preocupação nos Estados Unidos, mas também no Reino Unido, uma vez que tem uma capacidade de propagação muito superior às restantes variantes encontradas até agora.

Na quarta-feira, a Organização Mundial da Saúde confirmou que estava a avaliar o risco da nova XBB.1.5, que está a propagar-se rapidamente em vários países, como os EUA, onde já representa cerca de 40 por cento dos casos de covid-19.

Numa videoconferência, o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que a organização "está a acompanhar de perto e a avaliar o risco" desta subvariante, que "se propaga rapidamente", e "informará de acordo" com os novos dados que forem obtidos.

Sabe-se para já que esta subvariante da Ómicron – a variante mais contagiosa e globalmente dominante – resulta de uma recombinação de duas sublinhagens BA.2.

A líder técnica da OMS na resposta à covid-19, Maria Van Kerkhove, foi mais longe e afirmou, na videoconferência de imprensa, que a XBB.1.5 "é a subvariante mais transmissível detetada até agora", disseminando-se e replicando-se rapidamente por causa das mutações que contém.

"A nossa preocupação é o quão transmissível é"
, clarificou Van Kerkhove.

Estima-se que as sublinhagens XBB e XBB.1.5 representem 44,1 por cento dos casos de covid-19 nos Estados Unidos na semana última semana, de acordo com dados dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA. Já foi, contudo, detetada em 28 outros países.

De acordo com a explicação do investigador Yunlong Richard Cao, da Universidade de Pequim, a grande capacidade de contágio desta subvariante pode explicar-se por uma mutação – a F486P – que permite que o vírus se ligue mais facilmente às células que infeta, mais especificamente ao recetor ACE2, presente nas células humanas. É desta maneira que a nova variante cria uma grande capacidade de infetar células, escapando aos anticorpos da variante XBB.1.



Para já a OMS não tem dados claros sobre a gravidade ou do quadro clínico de pessoas infetadas com esta subvariante, mas os responsáveis também adiantam que não há indicação alguma de que se tenham registados casos de mais graves. A preocupação maior é relativa ao aumento de transmissibilidade.

“Esperamos novas vagas de infeção em todo o mundo, mas isso não significa que haja aumento de mortos porque as nossas medidas de combate continuam a resultar”, disse Van Kerkhove, referindo-se às vacinadas, tratamentos e medidas de prevenção.

Os virologistas concordam, ainda assim, que o aparecimento e alta transmissão da nova subvariante não significa que haja uma nova crise na pandemia, visto que se espera o aparecimento de novas variantes à medida que o vírus se vai disseminando.

"Não há razão para pensar que a XBB.1.5 é mais preocupante do que outras variantes que estão em constante mutação", explicou o professor Andrew Pollard, diretor do Oxford Vaccine Group, citado pela Reuters.

c/ agências
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