Imagens de satélite demonstram uma diminuição da poluição em Portugal desde que foi decretado o estado de emergência nacional. Vários países têm vindo a registar este mesmo aumento da qualidade do ar, como uma consequência provocada indiretamente pelo novo coronavírus.
Segundo explica um comunicado do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, este é “um dos impactos esperados da situação de emergência em que vivemos, uma vez que o NO2 é gerado sobretudo por emissões resultantes de setores como transportes e indústria, os quais têm sido, pelo menos parcialmente, desativados com a situação de emergência nacional decretada nas últimas semanas”.
Em Portugal, a região de Lisboa é onde se verifica uma redução mais significativa, chegando aos 80 por cento em alguns locais da capital. Já na região norte, a diminuição da poluição atinge os 60 por cento em determinados pontos da cidade do Porto.
Região do Porto a 10 de março | Crédito: AIR Centre
Portugal a 28 de março | Crédito: AIR Centre
Crédito: ESA
O aumento da probabilidade de pessoas que sofrem com problemas respiratórios está relacionado com a inalação por dióxido de azoto, “uma vez que em altas doses poderia inflamar o revestimento dos pulmões e reduzir a imunidade a infeções pulmonares, causando problemas como tosse, constipações e bronquite”, explica o comunicado.
China e Itália com o mesmo cenário
Para além de Portugal e Espanha, também a foi verificada uma redução drástica dos níveis da poluição na China e Itália desde que foi decretada quarentena nestes países.
“É a primeira vez que noto uma queda tão dramática numa área tão ampla. Não estou surpreendida porque muitas cidades na China adotaram fortes medidas para evitar a propagação do vírus”, disse Fei Lui, investigadora da NASA especializada em qualidade do ar.
Imagens recolhidas entre janeiro e fevereiro mostram uma grande diminuição nas emissões de dióxido de azoto nas maiores cidades chinesas. O mesmo acontece quando se analisam os níveis de dióxido de carbono (CO2).
Dióxido de nitrogénio | Crédito: ESA
“Mal já está feito”Apesar de se estar a verificar uma diminuição drástica da poluição em várias cidades do mundo, a Aliança Europeia de Saúde Pública (EPHA na sigla original) considera que “o mal já está feito” para os doentes.
A organização admite que as condições de saúde causadas pela poluição crónica do ar das cidades podem levar a um aumento das taxas de mortalidade causada pela Covid-19.
No entanto, sublinha que a poluição crónica do ar é um importante propiciador de doenças pulmonares e cardíacas, ligadas a taxas altas de mortalidade por covid-19.
Citada no comunicado, Rosamund Adoo-Kissi-Debrah, da Organização Mundial de Saúde (OMS), especialista em qualidade do ar, observa que seja qual for a forma de se usarem os números, a verdade é que a poluição é uma questão de “vida ou de morte”.
“O estrago já está feito. Anos a inspirar ar poluído do fumo dos carros e de outras fontes enfraqueceram a saúde de todos aqueles que estão agora envolvidos numa luta de vida ou de morte contra a covid-19”, disse ainda o secretário-geral interino da EPHA, Sasha Marschang.
A Agência Europeia do Ambiente (AEA) considera a poluição do ar o maior risco ambiental para a Europa, especialmente nas grandes cidades. Partículas finas, dióxido de nitrogénio e ozono ao nível do solo levam a cerca de 400.000 mortes prematuras em cada ano.
c/Lusa