"As nossas condições iniciais não estão cumpridas, portanto a desmobilização imediata está fora da mesa", garantiu João Pedro Pereira.
Segundo o porta-voz, os agricultores vão "com certeza, ponderar a situação, verificando a realidade nacional", mas, "em princípio, até amanhã [sexta-feira] de manhã não haverá nenhuma decisão definitiva".
"Sem prejuízo de ponderarmos desmobilizar, para nós, não estão cumpridas as condições iniciais e não é nossa intenção desmobilizar imediatamente. Nem temos condições logísticas para isso. Há pessoas que estavam aqui há 24 horas que foram descansar e uma desmobilização imediata está fora de questão", vincou.
"Surpreendidos com a desmobilização" dos protestos "noutros sítios", os agricultores que se encontram na Estrada Nacional 260 (EN260) junto à fronteira de Vila Verde de Ficalho, no lado português, e Rosal de la Frontera, no lado espanhol, insistem que não são movidos "só por dinheiro, nem sequer pelos cortes nas ajudas que foram a gota de água" que despoletou o movimento a nível nacional.
"Há aqui questões mais abrangentes. Há o regresso das florestas ao ministério da Agricultura, há a recuperação das direções-regionais de Agricultura, há o discutir a programação do PEPAC [Plano Estratégico da Política Agrícola Comum] com os agricultores para tentarmos chegar a soluções mais adequadas para a nossa agricultura", elencou João Pedro Pereira.
Além disso, os manifestantes, que "desde o início" tinham representantes "indicados para estarem em contacto com as outras zonas onde estavam a haver protestos" não se consideram vinculados a um suposto "acordo" com o Governo que terá levado à desmobilização noutras zonas do país.
"De repente, aparecem-nos aqui com uma ordem para desmobilizar, dada por pessoas com quem nunca falámos, em que os próprios agricultores que desmobilizaram [na fronteira] do Caia dizem que se sentem traídos e não percebem o que se passou", revelou o porta-voz.
Para este agricultor, "teria de haver um acordo assinado pelo menos por um representante" do grupo "que pudesse explicar exatamente o que foi acordado e em que moldes".
"Chegar um papel que já foi assinado em nosso nome e depois lemos e é muito semelhante ao que já tinha sido divulgado no dia 31, para nós, não nos compromete em nada, porque não eram esses os nossos objetivos, nem fomos consultados, nem estávamos presentes, portanto não consideramos que tenhamos sido parte desse acordo", argumentou.
Por estes motivos, acrescentou à agência Lusa um dos organizadores do protesto, José Maria Charraz, os agricultores em "Paymogo [Espanha] e Vila Verde de Ficalho" não vão desmobilizar.
Confrontado com o anúncio do Governo, ao início da noite, de que a maior parte das medidas do pacote de apoio aos agricultores portugueses, anunciado na quarta-feira, com mais de 400 milhões de euros, entra em vigor ainda este mês, o agricultou exigiu "assinaturas".
"Tem de haver alguma coisa fiável. Não é dizer que vão dar e depois já sabemos como é... Queremos compromissos! Têm de se comprometer, de assinar. Como é que ela [Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura] pode estar a prometer coisas que tem de ser a União Europeia a aprovar?", questionou José Maria Charraz.
A Estrada Nacional 260 (EN260) junto a Vila Verde de Ficalho, a alguns quilómetros da fronteira com Rosal de La Frontera, foi hoje cortada, por volta das 03:00, pelos agricultores, que atravessaram tratores e máquinas agrícolas na via.
O protesto, que inicialmente contou com cerca de 100 tratores e máquinas agrícolas, subiu para cerca de 180 veículos com o passar das horas, de acordo com a organização. O número de agricultores, provenientes de concelhos como Serpa, Moura, Mértola, Barrancos ou Beja, também atingiu algumas centenas.
Os agricultores paralisaram hoje importantes vias de norte a sul do país, incluindo fronteiras, com alguns dos movimentos a começarem a desmobilizar à noite, após garantias sobre os apoios anunciados pelo Governo.
Na quarta-feira, o Governo avançou com um pacote de ajuda aos agricultores, destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), que não travou os protestos agendados para hoje, de Norte a Sul do país.
Segundo a informação disponibilizada hoje à Lusa, a maior parte das medidas que integra o pacote de apoio entra em vigor ainda este mês, com exceção das que estão dependentes de `luz verde` de Bruxelas.
No contexto europeu, a Comissão Europeia vai preparar com a presidência semestral belga do Conselho da UE uma proposta para a redução de encargos administrativos dos agricultores, que será debatida pelos ministros da Agricultura dos 27 Estados-membros do bloco europeu no próximo dia 26 de fevereiro.